Em uma semana esvaziada pelos feriados da Semana Santa, o delegado Protógenes Queiroz presta depoimento nesta quarta-feira à CPI das Escutas Clandestinas da Câmara para apresentar detalhes da Operação Satiagraha. A operação investiga supostos crimes financeiros atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
Protógenes disse que vai manter a versão de que agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) prestaram apenas colaboração "informal" à operação --embora a comissão já tenha levantado que mais de 20 homens da agência participaram diretamente com a Satiagraha.
Os integrantes da CPI querem saber detalhes sobre a operação, mas não descartam realizar acareação de Protógenes com Paulo Lacerda, ex-diretor geral da Abin, caso considerem insatisfatório o seu depoimento à comissão. O delegado disse que aceita participar da acareação somente se houver divergências claras entre as versões apresentadas à CPI.
Divergências
"Não vejo problema se houver divergências. Se não houver, não vou aceitar. Se há divergências, eles (deputados) devem perguntar para ele (Lacerda)", afirmou em visita ao Congresso na sexta-feira.
A reportagem apurou que, em conversas com parlamentares, Protógenes adiantou que pretende mostrar-se perseguido pela Polícia Federal. O delegado sustenta que, depois de ser investigado pela corporação pela suspeita de vazar informações da Satiagraha, os criminosos passaram a ser vítimas --enquanto os responsáveis pela operação se tornaram publicamente suspeitos.
Protógenes vai afirmar que foi "perseguido" dentro da Polícia Federal ao negar ter cometido qualquer irregularidade durante as investigações. "Vou ratificar tudo o que disse à CPI", disse o delegado.
Lacerda
O ex-diretor da Abin vai depor à CPI depois da Semana Santa. Lacerda pediu para adiar seu depoimento à comissão porque vive em Lisboa, como adido militar da embaixada brasileira. Além de Protógenes, a comissão marcou para amanhã o depoimento do delegado Renato Porciúncula --assessor especial de Lacerda no período em que esteve no comando da Abin.
O delegado teria procurado o ex-agente do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) Francisco Ambrósio um dia antes da imprensa revelar que Ambrósio seria autor de grampos clandestinos. Ele foi apontado como suspeito de participação no grampo que flagrou conversa entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.