A Polícia Federal prendeu ontem quatro diretores e duas secretárias da construtora Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do país, sob acusação de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A lista dos pedidos de prisão, cumpridos em São Paulo e no Rio de Janeiro, incluiu ainda quatro doleiros. Segundo o Ministério Público Federal, um deles constituiu uma empresa de fachada em uma estrada de terra no Rio de Janeiro, que emitia remessas ao exterior rotuladas como pagamento a fornecedores. A operação, batizada de Castelo de Areia, durou um ano e foi realizada por uma equipe de cerca de 10 policiais federais.
;Existem fortes indícios de que a empresa utilizava-se de empresas offshore e de operações dólar-cabo (sem o controle do Banco Central), por meio de empresas, em princípio laranjas, para remeter remessas ao exterior;, afirmou o delegado regional de combate ao crime organizado da superintendência da PF em São Paulo, José Alberto Iegas. De acordo com o MPF, o esquema de corrupção desviou, desde janeiro do ano passado, cerca de R$ 30 milhões. O valor incluiria remessas a paraísos fiscais e financiamento de campanhas políticas em 2008.
Sete siglas são citadas em conversas, gravadas pela PF, entre o diretor da empreiteira Pietro Francisco Bianchi e assessores e funcionários do alto escalão da Camargo Corrêa. São mencionados o PSDB, PS, PPS, PSB, PDT, DEM, PP e o PMDB do Pará. Segundo relatório da polícia, o repasse do dinheiro foi intermediado ;direta ou indiretamente; pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Doações
Em resposta, o PSDB declarou que recebeu doações da empreiteira dentro da lei. DEM, PDT e PSB afirmaram que não aceitaram doações ilegais para campanhas eleitorais. O PPS negou ter recebido doação da Camargo Corrêa e o PP afirmou que toda doação de campanha recebida pelo partido está na prestação de contas encaminhada ao TSE. Em nota, a Fiesp declarou que não se envolve em relações entre as empresas que representa e os partidos políticos e candidatos.
De acordo com relatório da polícia, um dos diretores da construtora pede urgência no transporte de dinheiro vivo para o Recife. O fato é associado a indícios de superfaturamento para construção da Refinaria do Nordeste, em Suape (PE). A obra é realizada com recursos da Petrobrás e executada por um consórcio de empresas ; dentre as quais a Camargo Corrêa. O relatório da polícia faz referência a uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre superfaturamento da obra. A Petrobras declarou que considera não ter havido superfaturamento na obra, mas que suspendeu o pagamento acatando determinação do TCU.
A empreiteira divulgou comunicado no qual declara confiança em seus diretores e funcionários e aponta prejuízos à imagem de suas empresas pela forma como a ação ocorreu. ;A Camargo Corrêa vem a público manifestar sua perplexidade diante dos fatos ocorridos hoje pela manhã, quando a sua sede em São Paulo foi invadida e isolada pela Polícia Federal, cumprindo mandado da Justiça;, diz a nota. O esquema de corrupção teria ainda desviado dinheiro de obras públicas superfaturadas para abastecer contas ilegais no Uruguai, Ilhas Cayman, Caribe, Suíça e Alemanha.