São Paulo ; Em tom de desabafo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou na noite desta segunda-feira (23/03) que a crise enfrentada pela instituição é anterior à sua gestão. "Os problemas caíram no meu colo", disse ele, ao abrir uma palestra para alunos da Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) no bairro da Liberdade, região central da capital paulista.
Segundo ele, "os problemas" são fruto da própria máquina pública. "Neste momento, atravessamos muitas crises e críticas. Nenhuma delas sobre minha gestão, mas sobre a estrutura burocrática da Casa. São essas misérias que existem na máquina que todos nós, homens públicos, devemos estar alertas para combater."
Sarney relacionou as medidas já anunciadas desde que uma auditoria comprovou, semana passada, a existência de 181 diretores no Senado, alguns deles exercendo funções em diretorias como "de garagem", "de autógrafos" e até "de check in" em aeroportos. Desde a divulgação da denúncia, 50 cargos foram cortados.
Mão Firme
"Tive de demitir diretores, afastei bancos agiotas, reduzi em 10% as despesas e os gastos da Casa e chamei da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para fazer uma reforma administrativa que diminua custos e aumente a eficiência", pontuou Sarney, antes de acrescentar que pretende fazer o possível para impedir que a imagem do Senado seja definitivamente arranhada pela crise do momento.
"Não tenho mais aspirações de futuro. No próximo ano completarei 80 anos. Mas eu tenho passado. E tenho de zelar por este passado. Posso assegurar que, com mão firme, vou fazer todo o necessário para preservar a imagem do Senado", disse o atual presidente da Casa e ex-presidente da República, para quem o Senado "é uma instituição eterna, que, em grande parte, ajudou a construir o Brasil."
Sarney reafirmou ainda que dará início a uma pequena reforma administrativa na Casa antes mesmo da conclusão do estudo da FGV. E rejeitou qualquer responsabilidade pelas distorções tornadas públicas para a sociedade. "Estou há 45 dias lá (na presidência do Senado), qual cargo foi criado por mim?", questionou.
O presidente do Senado prometeu acabar com as irregularidades e disse que quer agir sem cometer injustiças com bons funcionários públicos concursados, cuja imagem deve ser preservada. "Não podemos partir para as generalizações."