Na última terça-feira, enquanto o falecido deputado Clodovil Hernandes estava em coma e os médicos já não mais demonstravam qualquer otimismo sobre as possibilidades de recuperação do parlamentar, o seu gabinete realizava uma das maiores compras de passagens aéreas em um único dia já registradas pela Câmara: R$ 20 mil. Os trechos estavam todos no nome do chefe de gabinete, Mauricio Petis. O alto valor chamou a atenção da Coordenação de Gestão da Cota Parlamentar, que cancelou a emissão das passagens e comunicou a Direção Geral sobre o caso. A Câmara decidiu não abrir um processo de investigação, alegando que a tentativa do servidor não chegou a resultar em ônus para a Casa.
Ouvido pelo Correio, Mauricio Petis disse que desconhecia o limite para a emissão dos bilhetes, apesar de ter passado anos na função responsável pelo controle e pela compra de todas as passagens que utilizam a cota parlamentar. Petis disse que o valor do gasto não era excessivo, visto que caberia a ele cuidar dos móveis do gabinete e dos bens deixados pelo parlamentar no apartamento funcional. ;Eu pretendia fazer a viagem entre Brasília e São Paulo muitas vezes para cuidar das coisas do deputado. Como eu sempre viajava com ele usando as cotas da Câmara, achei normal emitir essas passagens para poder resolver os problemas. Se não pode, paciência;, comenta o ex-chefe de gabinete e amigo de Clodovil.
Apesar de a Câmara ter detectado a irregularidade nas passagens a tempo, os técnicos da Casa foram orientados a prestar atenção às datas e às despesas apresentadas pelo gabinete referentes ao período em que Clodovil permaneceu em coma.
Imóveis
Na última quinta-feira, agentes da Policia Legislativa invadiram o apartamento funcional que era ocupado por Clodovil e lacraram o imóvel. A justificativa apresentada na ocasião foi a de que o isolamento da área fazia parte do procedimento adotado para investigar a suspeita de assassinato. Segundo os médicos, a causa da morte foi um acidente vascular cerebral (AVC).
Ontem, no entanto, a Direção da Câmara negou a informação dada pelos policiais. Segundo a versão oficial, o isolamento é uma medida que visa proteger os bens do parlamentar falecido, já que muitos funcionários estavam transitando pelo imóvel. O acesso ao apartamento somente será permitido depois que os advogados de Clodovil concluírem o inventário.
Enquanto aguardam a decisão, servidores que trabalhavam para o deputado iniciam uma nova batalha. Querem que o gabinete reformado por Clodovil não seja ocupado pelo suplente do parlamentar. A ideia é transforma-lo em um dos lugares abertos à visitação na Câmara. Para isso, contam com um requerimento apresentado pelo deputado Wellington Fagundes (PR-MT). O parlamentar alega que a reforma realizada por Clodovil e a fama do colega falecido transformaram o gabinete e o apartamento funcional em lugares que despertam a curiosidade das pessoas. ;Estamos otimistas e queremos contar com a boa vontade da Mesa Diretora. Não há dúvidas de que os fãs do deputado iriam se interessar muito em visitar esses lugares, em ver como Clodovil vivia em Brasília;, comenta Bertha Pelegrino, ex-assessora de imprensa.
Os planos dos ex-funcionários, no entanto, sofrem sérias resistências da cúpula da Câmara. Em conversas informais, integrantes da Mesa Diretora dizem que a Casa não possui condições físicas para inviabilizar um gabinete e coloca-lo à disposição de visitantes. Por isso, deram prazo até a próxima segunda-feira para que os pertences do parlamentar sejam retirados. Ontem, ex-assessores de Clodovil passaram o dia encaixotando livros e objetos de decoração para encaminhá-los ao apartamento do parlamentar em São Paulo. Os móveis devem ser guardados no depósito da Câmara até o fim do inventário.