O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu puxar o freio de mão na candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), preocupado com a crise econômica e com a polêmica sobre a utilização da máquina com fins eleitorais. Avalia que Dilma ganha muito mais densidade eleitoral se fizer o seu trabalho como ministra responsável pela execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do que se sair por aí participando de reuniões com aliados e militantes do PT. Se a ministra quiser, segundo Lula, ela pode cumprir esse tipo de agenda nos fins de semana, mas mesmo assim o presidente considera esse esforço, no atual momento, perda de tempo.
;Ela ganha mais participando da comitiva de Lula na viagem aos Estados Unidos do que num encontro com militantes do PT que me apoiam na Zona Leste de São Paulo;, concorda o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), para quem o apoio do PT à candidatura da ministra dispensa maiores debates internos. ;Ela já é candidata do PT, isso não se discute mais;, afirma o petista. Aliado de Dilma, Vaccarezza destaca que a prioridade do governo é o enfrentamento da crise econômica e a execução das obras do governo federal.
O ;tour de force; da ministra da Casa Civil para consolidar sua candidatura ocorreu logo após Dilma voltar das férias do final do ano, repaginada por uma cirurgia plástica cujo objetivo foi torná-la mais simpática. O ar sisudo de Dilma se encaixava como uma luva no papel de chefe da máquina burocrática federal, coordenando as ações dos demais ministros, mas segundo as pesquisas gerava antipatia na massa de funcionários e na opinião pública. O novo visual foi a largada para uma estratégia de marketing, sob a batuta do publicitário João Santana, com objetivo de transformá-la numa candidata competitiva. O ponto alto dessa estratégia foi o polêmico encontro com os prefeitos e vice-prefeitos organizado pelo Palácio do Planalto, no qual a ministra foi uma estrela ao lado de Lula.
Palanque
O evento gerou críticas da oposição e da mídia, por causa dos gastos excessivos e o clima de palanque eleitoral. A oposição entrou com uma representação contra o governo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas não foram essas críticas que determinaram a mudança de tática em relação à candidatura. Foi o agravamento da crise econômica, que provocou a reestruturação do Orçamento da União, anunciada ontem pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O governo federal revisou a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2% em 2009. Como consequência, houve um corte de R$ 21,6 bilhões no Orçamento, que só não foi maior porque o superavit primário será flexibilizado. Isso significa menos recursos para o governo federal gastar. Os projetos do PAC terão suas prioridades e cronograma de obras revistos. Essa tarefa cabe a Dilma.
Lula também baixou a bolada da disputa entre os petistas para comandar a campanha de Dilma. Ela havia se instalado a partir do momento em que tinha solicitado que os ex-prefeitos João Paulo, do Recife, Fernando Pimentel, de Belo Horizonte, e Marta Suplicy, de São Paulo, ajudassem a ministra a se aproximar da militância do PT. O presidente da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP), não gostou de ver a Executiva Nacional marginalizada do processo.
Além disso, algumas seções do PT são um terreno minado, porque há disputas sérias entre os próprios petistas e deles com os aliados. Em São Paulo, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci e o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, postulam a vaga de candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Em Minas, Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, estão em rota de colisão pelo mesmo motivo. Para Lula, é melhor estreitar as relações com aliados como o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB), muito cotado no Palácio do Planalto para ser o vice de Dilma, do que entrar em bolas divididas do PT.