A queda do diretor de Recursos Humanos do Senado, João Carlos Zoghbi, na sexta-feira (13/03), abriu de vez a caixa-preta dos apartamentos funcionais ocupados por servidores. A relação do seleto grupo de ;inquilinos;, obtida pelo Correio, mostra que nos últimos 10 anos assessores e aliados do ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia receberam, sem alarde, as chaves de imóveis de propriedade do Estado. O critério que prevaleceu para receber uma moradia, nenhuma com menos de três quartos, foi fazer parte do grupo que comandou o Senado por 15 anos. Dos 12 apartamentos ocupados por funcionários, pelo menos sete foram destinados a pessoas ligadas ao ex-diretor. Mais: há, ainda, três funcionários comissionados, ou não-efetivos, morando nesse tipo de imóvel.
Esse grupo de servidores liderados por Agaciel vem se desmontando desde o ano passado, mas deixou um legado que tem causado tremenda dor de cabeça ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e ao novo primeiro-secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI). Primeiro, veio a demissão de Agaciel da Direção-Geral. Depois, a crise das horas extras pagas aos servidores em janeiro e a existência de funcionários fantasmas em empresas terceirizadas, ponto delicado da idoneidade da instituição. E, agora, a turbulência dos apartamentos funcionais, que culminou com a exoneração de Zoghbi, acusado de repassar aos filhos um imóvel do Senado na 112 Norte enquanto morou numa casa no Lago Sul.
Grande negócio
Num apartamento no Bloco K da 308 Norte, por exemplo, mora, desde 1999, Vicente Wanderley Júnior. Servidor efetivo do Senado, Vicente recebeu autorização para viver no imóvel pouco depois de deixar o posto de chefe-de-gabinete da Diretoria-Geral então comandada por Agaciel Maia. No mesmo ano, João Carlos Zoghbi foi agraciado com o apartamento da Asa Norte. Na sexta-feira (13/03_, a reportagem confirmou: Vicente Júnior continua morando no local. ;É o Vicente que passeia com o cachorro;, disse um vizinho.
O servidor José Batista Liparizi é um antigo funcionário do Senado. Começou como segurança e, até 2005, era lotado no gabinete do senador Papaléo Paes (PSDB-PA). Desde 2002, ocupa um apartamento no Bloco J da 411 Norte. O caso mais explícito é o da secretária de Agaciel, Cristiane Tinoco Mendonça. Lotada na Diretoria-Geral, ela recebeu um imóvel do Senado em 2004 no Bloco F da 108 Norte. Receber a autorização para ocupar um apartamento desse tipo é um grande negócio, que certamente faz inveja a quem procura imóvel para alugar no caro mercado imobiliário de Brasília. Segundo corretores, o aluguel de um apartamento do Senado vale, em média, cerca de R$ 2 mil. Para residir nele, os funcionários tiram bem menos do bolso: de R$ 138 a R$ 400 por mês.
Braço-direito de Agaciel, o servidor Valdeque Vaz de Souza não pode reclamar do ex-chefe. Em 2006, ganhou o direito de morar num espaçoso apartamento de 100 metros quadrados no Bloco J da 205 Sul. No mesmo ano, Valdeque teria ajudado a salvar a pele do então diretor-geral da Operação Mão-de-Obra, da Polícia Federal, que desmontou um esquema de fraude em licitações. O assessor de Agaciel, segundo as investigações, esteve no gabinete do patrão numa madrugada anterior à ação de busca no local por parte da PF, o que teria atrapalhado os planos da polícia. Valdeque mora até hoje no imóvel. Além dele, os servidores Djalma da Silva Leite e Elizeu Breda Toso também foram beneficiados por Agaciel com apartamentos funcionais.
A obscuridade dos critérios para a ocupação dos apartamentos abriu brecha para servidores comissionados, sem concurso público, residirem neles. É o caso de Ana Maria Curado, Soraia Barros Gomes e Iméria Catarina de Moura. A primeira é lotada no gabinete do senador Marco Maciel (DEM-PE), a segunda trabalha como secretária de Demostenes Torres (DEM-GO), enquanto a última dá expediente na estrutura do senador Expedito Júnior (PR-RO). Segundo a assessoria de Demostenes, Soraia entrou em seu gabinete em 2003, quando, segundo o senador, já usufruía o apartamento. Os demais servidores citados na reportagem foram procurados durante a semana, mas alguns não quiseram dar declarações e outros não foram encontrados.