São Paulo - A CPI das Escutas Telefônicas da Câmara deve prorrogar suas atividades por mais 60 dias. O objetivo é aprofundar as investigações sobre as denúncias, publicadas na revista "Veja", de que autoridades dos três Poderes foram alvos de uma investigação ilegal promovida pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz --que comandou a Operação Satiagraha, que investiga o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o presidente da CPI das Escutas Telefônicas, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), se reúnemnesta segunda-feira (09/03) para discutir a possibilidade de prorrogação da CPI. A interlocutores, Itagiba se disse chocado com as informações publicadas na revista, indicando que são graves e devem ser apuradas de forma rigorosa. Independentemente da prorrogação das atividades da CPI, Itagiba apresentará nesta terça-feira (10/03) um voto em separado ao relatório proposto pelo deputado Nelson Pellegrino (PT-BA). A data prevista para o término da CPI é quarta-feira (11/03), quando deverá ser votado o relatório final da comissão. Para Itagiba, é fundamental que a CPI aprove os indiciamentos dos delegados da PF Paulo Lacerda, ex-diretor-geral da polícia, Protógenes, além de José Milton Campanha, ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e do banqueiro Daniel Dantas. Interlocutores de Itagiba informaram ainda que ele recebeu novos documentos da Polícia Federal, na última sexta, e ainda não os examinou. O material estaria no cofre da CPI. Suspeitas.
De acordo com a reportagem publicada na "Veja", Protógenes usou métodos ilegais para investigar diversas autoridades. Entre os alvos do delegado estariam os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), o ex-ministro José Dirceu, o governador José Serra (São Paulo), o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o empresário Fábio Luiz da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de outras personalidades.
No ano passado, Protógenes ganhou projeção nacional em decorrência de suas atividades no comando da Operação Satiagraha --que prendeu no ano passado o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, o ex-prefeito Celso Pitta e o investidor Naji Nahas. Todos foram soltos depois.
A atuação de Protógenes gerou divergências entre vários setores do governo e o delegado acabou afastado da operação e alvo de um inquérito da PF --que apura eventuais excessos cometidos por ele no curso da Satiagraha. Entre os problemas da investigação estaria a utilização de agentes da Abin.
De acordo com a reportagem da "Veja", a PF teria descoberto no computador pessoal e pen drive de Protógenes informações sobre investigações ilegais cometidas pelo delegado.
A revista diz que entre os documentos encontrados na casa de Protógenes há relatórios que levantam suspeitas sobre atividades de ministros do governo, fotos comprometedoras que foram usadas para intimidar autoridades e gravações ilegais de conversas de jornalistas. Filha de Lula.
Para investigar o filho de Lula, Protógenes teria dito a integrantes de sua equipe que teria recebido uma missão presidencial. A revista diz que um dos espiões teria ouvido de Protógenes que o presidente tinha interesse na investigação porque seu filho teria sido cooptado por uma organização criminosa --referência a Daniel Dantas.
A empresa de Lulinha fechou em 2004 um acordo com a Brasil Telecom, que na época era controlada por Dantas. Em nota, a PF informou que não vai comentar o conteúdo da reportagem "por se tratar de tema de investigação policial sob segredo de justiça".