;Se o Aécio não desistir, o PSDB terá que fazer as prévias, mesmo que boa parte da direção do partido não queira.; A frase, de um integrante da Executiva Nacional, define o dilema tucano. Dividido entre as pré-candidaturas dos governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, o PSDB enrola-se numa série de manobras e intrigas de bastidor. Aécio ganhou força em fevereiro, com uma ofensiva na qual conseguiu que todos os tucanos, inclusive Serra, concordassem formalmente com as prévias, embora com graus bem diferentes de sinceridade. Os últimos dias marcaram a reação dos serristas, que voltaram ao ataque.
Foram vários movimentos. O primeiro teve como alvo o PMDB. Em fevereiro, o partido deu a Aécio recepção de estrela, durante uma visita a Brasília. A bancada da Câmara reforçou o convite para que ele seja o candidato da legenda à Presidência em 2010. O presidente do Senado, José Sarney, também sinalizou com seu apoio. Poucos dias depois, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), que é do PMDB mas apoia Serra, iniciou uma ofensiva de acusações de corrupção, mirando na direção do partido e em Sarney. Na esteira de Jarbas, parlamentares de vários partidos criaram uma frente contra a corrupção. O deputado Arnaldo Jardim (PSDB-SP), um dos principais operadores de Serra no Congresso, estava entre os fundadores.
O movimento seguinte apareceu nas páginas dos jornais. Primeiro, fontes ligadas a Serra espalharam a notícia de que o PSDB não estaria preocupado com a possibilidade de Aécio ingressar no PMDB. ;Não seria nenhuma novidade se ele não apoiar o candidato do PSDB, afinal não apoiou em 2002 e 2006;, alfineta um deputado serrista. ;A falha desse raciocínio é que, em 2002 e 2006 o PSDB perdeu;, rebate outro parlamentar, que trafega entre os dois candidatos.
Data
A polêmica mais recente é sobre a data das prévias. O grupo de Serra defende que elas aconteçam em 2010, enquanto Aécio quer a consulta ainda este ano. Na verdade, o que está em jogo é mais profundo. Serra desfruta hoje de uma posição privilegiada nas pesquisas. Lidera todas as simulações, com índices mais altos que os de Aécio. As prévias poderiam dar visibilidade ao governador de Minas Gerais e melhorar sua posição nas pesquisas. Quanto mais tarde elas acontecerem, mais se consolidará a condição de Serra como candidato natural. A ponto de o partido dispensar a consulta.
;São movimentos do entorno de Serra e não dele;, minimiza um dirigente tucano. Integrantes da Executiva Nacional ouvidos pelo Correio dizem que o governador paulista sabe que precisará de Aécio para ter chances de vitória. O movimento que Serra tem feito pessoalmente é a busca de eleitores qualificados dentro do partido. Nos últimos dias, ele intensificou os contatos, por telefone e pessoalmente, com deputados, senadores e dirigentes regionais da legenda. Nessas conversas, assume ser candidato, mas defende que o processo de escolha seja adiado para 2010.