A Polícia Civil do Distrito Federal vai pedir a quebra de sigilo telefônico do ex-chefe da representação do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcante, encontrado morto no dia 17 passado, no Lago Paranoá. Os investigadores esperam encontrar indícios que apontem os motivos da morte, por meio das ligações recebidas e feitas pelo ex-representante gaúcho. Apesar de trabalhar também com a hipótese de suicídio, a polícia não descarta a possibilidade de que tenha havido crime de homicídio, já que Cavalcante chegou a ser citado como um dos envolvidos em fraudes no Departamento de Trânsito (Detran) de Porto Alegre, que originou a Operação Rodin, desencadeada em novembro de 2007 pela Polícia Federal, mas não foi indiciado pelo Ministério Público.
;Já sabemos que ele (Cavalcante) ligou para a filha, mas queremos saber quais foram as demais ligações recebidas e feitas;, afirma o delegado da 10ª DP, Antônio Cavalheiro, assegurando que um dos focos da investigação é saber o que ocorreu antes da morte do ex-representante. ;A polícia não descarta nenhuma hipótese;, acrescentou Cavalheiro, ressaltando que, no final da apuração, o inquérito poderá ser encaminhado para a Polícia Federal, caso haja interesse por causa da Operação Rodin. Antes de morrer, Cavalcante teria procurado informações sobre o Programa de Proteção aTestemunhas. A PF e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, responsáveis pelo programa, negaram que isso tenha ocorrido.
Uma das linhas de investigação da Polícia Civil será a análise das imagens de segurança gravadas pelo Detran na entrada da Ponte Juscelino Kubitschek, o que poderá mostrar em que circunstâncias Cavalcante chegou ao local. ;Podemos esclarecer, por exemplo, se ele estava só ou se ele atirou-se da ponte;, diz Cavalheiro. Segundo o delegado da 10ª DP, o quadro encontrado pela polícia aponta para suicídio, mas ele não pretende fixar em apenas um foco, já que o ex-representante seria uma testemunha da Operação Rodin e estaria prestes a prestar depoimento ao Ministério Público Federal, segundo familiares da vítima. O MPF, ao lado da Polícia Federal, formouuma força-tarefa para apurar o caso, mas procuradores da República no Rio Grande do Sul, que atuam nas investigações, não quiseram dar declarações sobre a morte de Cavalcante.
Prejuízo
Desencadeada em novembro de 2007, a Operação Rodin prendeu 13 pessoas envolvidas em fraudes no Detran gaúcho, que contratava, sem licitação, uma fundação univeristária para avaliação teórica e prática na habilitação de motoristas. As irregularidades causaram um prejuízo de mais de R$ 40 milhões aos cofres públicos. Até então, Marcelo Cavalcante era representante do governo do estado em Brasília e seu afastamento se deu em função de que teria sido grampeado pela PF intermediando reuniões entre os principais suspeitos. As investigações da PF e MPF continuam e 44 pessoas já foram denunciadas no processo.
Antes de exercer o cargo, o ex-representante trabalhava no gabinete da atual governadora gaúcha, Yeda Crusius (PSDB), quando ela era deputada federal. Integrantes da força-tarefa que atuam na Operação Rodin afirmam que, por ser considerado uma testemunha, Cavalcante não foi indiciado pela PF ou denunciado pelo Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, que na próxima semana se reunirá em Porto Alegre para analisar a morte do rapaz.