Desde que retornou aos trabalhos legislativos no último dia 2 para eleger seu novo presidente, o Senado parou. Ou melhor, nem começou. Foram duas semanas de muita guerra nos bastidores e pouco resultado prático. A disputa pelo comando das principais comissões transformou-se num palco de egos, promessas e cobranças. Enquanto isso, o plenário continua vazio.
O que está em jogo não é nem a comissão em si, mas a necessidade de um senador ter visibilidade até 2010, quando terá que disputar mais uma eleição para continuar na Casa ou ser governador em seu estado. A regra é que a escolha dos presidentes das comissões respeite o princípio da proporcionalidade das bancadas. Mas nem todos os partidos pensam assim. O PTB, por exemplo, quer o comando da Comissão de Relações Exteriores. Já indicou o ex-presidente Fernando Collor (AL) para a vaga. Teoricamente, a cadeira pertence ao PSDB, que já escolheu Eduardo Azeredo (MG), um parlamentar de olho nas eleições de 2010.
A guerra interna foi aberta: o PTB cobrou do PMDB apoio nessa briga por ter apoiado a candidatura de José Sarney (AP) à Presidência do Senado, enquanto os tucanos ficaram com o petista Tião Viana (AC). Não adiantou muito. O próprio Sarney entrou em campo e deixou claro que o PMDB não vai se envolver. Se o PTB quiser a vaga, terá que disputá-la no voto. Collor, uma figura apagada dentro do Senado, sonha com as Relações Exteriores porque avalia que é uma pasta perfeita para um ex-presidente da República.
O PTB sabe que Collor deve perder. Pressionado pelo colega, o líder da legenda, Gim Argello (DF), procurou o líder da bancada petista, Aloizio Mercadante (SP), e propôs um acordo: o PT apoiaria Collor e, em troca, os petebistas ajudariam a impedir a eleição de Demostenes Torres (DEM-GO) para o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O Palácio do Planalto não esconde a preocupação de ter um ferrenho opositor na comissão mais importante do Senado. Demostenes é outro que precisa de visibilidade e holofote nos próximos meses. É candidato à reeleição ao Senado. O apelo de Gim não deu certo. Mercadante não topou a oferta. Por uma simples razão: não quer colocar em risco a indicação de Ideli Salvatti (PT-SC) para presidir a Comissão de Infraestrutura.
Conversa
Ideli é candidata ao governo do seu estado em 2010 e não abre mão de comandar uma comissão. O PMDB chegou a tentar emplacar Valdir Raupp (PMDB-RO) para a vaga. Ideli endureceu o discurso com Roseana Sarney (PMDB-MA) numa conversa presenciada por quem estava ao redor. ;Se o PMDB tem débito com alguém do PT, essa pessoa sou eu;, disse, referindo-se ao apoio que deu para impedir a cassação de Renan Calheiros em 2007.
Ao ser informado da proposta feita por Gim a Mercadante, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), mandou um recado em tom de ameaça: ou o petebista aceita a proporcionalidade das bancadas, ou o tucano começará a usar a tribuna do Senado para questionar o passado do senador. A turma do ;deixa-disso; entrou em ação e acalmou os ânimos.
Na semana passada, o senado Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) comemorava a indicação para presidir a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Candidato à reeleição em 2010, Garibaldi tentou continuar na Presidência do Senado. Foi atropelado pela candidatura de José Sarney. Ganhou a promessa de comandar a CCJ. O DEM não abriu mão da vaga. E, agora, o PMDB articula a CAE para o senador. No ano que vem, Garibaldi terá dois adversários de peso para brigar por apenas duas vagas ao Senado pelo Rio Grande do Norte: José Agripino (DEM) e a governadora, Wilma de Faria (PSB).