Uma romaria de diretores e servidores esteve no gabinete da Presidência do Senado ontem. Uns para pedir a bênção ao novo presidente, José Sarney (PMDB-AP). Muitos para tentar garantir a permanência no próprio cargo. Mas a maioria tomou um chá de cadeira e não conseguiu ser atendida. O primeiro dia de novo comando já foi notado nos corredores da Casa: segurança reforçada e a liturgia do cargo respeitada ao extremo. Sarney gosta do rito da cadeira de presidente. Nas outras duas vezes em que esteve no cargo, servidores o esperavam para recebê-lo na chegada e se despedir na hora de ir embora. Ontem, não foi diferente.
Sarney acordou cedo depois de receber amigos até a madrugada anterior em meio à comemoração pela vitória sobre o petista Tião Viana (AC) na segunda-feira. A agenda foi cheia. Logo pela manhã, o presidente do Senado foi à posse do ex-senador José Jorge (DEM) como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Depois, rumou ao Senado. Seu primeiro desafio no comando da Casa foi administrar a crise entre PR e PDT pela Quarta Secretaria. Sarney prefere respeitar a proporcionalidade das bancadas e entregar a vaga aos pedetistas, mas evitou entrar na polêmica. ;Acredito sempre que vamos encontrar um terreno de concórdia, de interesse comum;, afirmou.
O senador chegou a se ausentar da primeira reunião de líderes que discutiu o assunto. Preferiu ir à posse de José Jorge no TCU. Aos jornalistas, minimizou o efeito eleitoral para 2010 depois que o PMDB garantiu as presidências de Câmara e Senado. ;Olha, 2010 ainda está muito longe. Nós apenas estamos tratando da administração das duas Casas do Congresso;, disse.
Sarney comentou ainda as propostas de limitar a edição de Medidas Provisórias por parte do Executivo. ;De modo a resolvermos de uma vez por todas esse problema, que não pode mais continuar, porque ele não deixa aprofundar a democracia;, afirmou. Mas Sarney não falou muito mais do que isso. As rotineiras e diárias entrevistas coletivas de ex-presidentes como Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, não devem mais ocorrer. Sarney é dono de um estilo mais recluso e deu sinais de que optará por uma ou duas rápidas declarações por dia. Ontem, assustado com o assédio da imprensa, pediu reforço da segurança. Foi atendido prontamente.
Mudanças
O novo primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), mandou suspender as licitações em andamento, inclusive a referente à compra de 1,7 mil cadeiras e 62 sofás por R$ 2,4 milhões. Heráclito, segundo sua assessoria, quer analisar os editais antes de colocá-los em ação. A Primeira-Secretaria é considerada o ponto fraco do Senado, um esqueleto recheado de suspeitas após a passagem de Efraim Morais (DEM-PB) pelo cargo.
Ao ser eleito na segunda-feira, Sarney avisou que pretende fazer um corte linear de 10% no orçamento de R$ 2,7 bilhões do Senado. Ainda não deu detalhes de como fará isso. Nos próximos dias, vai reunir-se com a nova Mesa Diretora e o comando administrativo da Casa para tratar do assunto. A amigos, disse que não pretende trocar diretores do Senado imediatamente. Mas não descarta a hipótese. Sarney quer, primeiro, fazer um estudo interno para detectar as fragilidades que precisam de mudanças a curto prazo.