Jornal Correio Braziliense

Politica

Lula briga pela base na Câmara

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer marola na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados. Por experiência própria, sabe que a manutenção de sua heterogênea base de sustentação no Congresso depende de um ambiente amistoso na Casa. Lula apoia a aliança do PT com o PMDB em torno da candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP). Para viver em paz com o Congresso, pode abrir mão da candidatura de Tião Viana (PT-AC), no Senado, em favor do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), se o velho cacique maranhense realmente resolver ser candidato. Mesmo assim, a turbulência na Câmara já é grande, com três candidatos da base governista desafiando Temer: Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). A Presidência da Câmara, segundo cargo na linha de sucessão de Lula, se tornou ainda mais importante porque o vice-presidente da República, José Alencar, é obrigado a se hospitalizar com frequência. Ele trava uma longa e corajosa luta contra um câncer. As eleições para o cargo são acirradas. O critério da proporcionalidade entre as bancadas para formação da Mesa Diretora sempre é arranhado por diversas candidaturas avulsas, que atropelam os líderes partidários, que não controlam o voto secreto de 513 deputados. É o que está acontecendo com Temer, apesar do blocão de 14 partidos que o apoiam. ;Estive com o presidente Lula na semana passada, ele acompanha o processo e deve se encontrar com o ex-presidente Sarney na próxima semana, mas as duas eleições são coisas separadas;, argumenta Temer, cuja candidatura sofre efeitos colaterais da disputa no Senado. Na semana passada, o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reiteraram apoio a Viana e cobraram ;bom senso; da bancada peemedebista no Senado. Suas declarações foram interpretadas como a ameaça de retirada de apoio a Temer. ;Não houve nada disso, tanto Berzoini como Chinaglia me ligaram para desmentir as versões de que estavam cobrando reciprocidade;, explica o peemedebista. Temer já presidiu a Câmara duas vezes. É considerado um político anfíbio, que transita tanto no governo Lula, do qual faz parte do conselho político, como junto com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de quem sempre foi aliado. Essa ambivalência é explorada por Aldo Rebelo (PCdoB), candidato do bloquinho PSB-PDT-PCdoB-PRB-PMN, que se coloca para os governistas como um aliado mais confiável. A fim de evitar o crescimento de Aldo, Temer tenta implodir o bloquinho. ;Os dois deputados do PRB votarão comigo, a bancada do PDT deve deixar o bloquinho e me apoiar, oficialmente, na próxima quarta-feira;, anuncia. Temer conta com o apoio formal de 14 partidos, liderados de um lado pelos governistas PMDB e o PT e, de outro, pela frente de oposição PSDB-DEM-PPS. Novo embate Ex-presidente da Câmara, eleito para um mandato tampão após a renúncia de Severino Cavalcanti (PP-PI), Aldo foi um esteio do atual governo. Durante a crise do mensalão, matou no peito e arquivou todos os pedidos de impeachment do presidente Lula feitos pela oposição. Entretanto, não conseguiu se manter no cargo, nas eleições da Mesa de 2006, porque Temer garantiu o apoio do PMDB ao petista Chinaglia, em troca do apoio do PT, que agora está recebendo de volta. Foi uma eleição apertada: Chinaglia e Aldo obtiveram, respectivamente, 261 e 243 votos dos 510 votantes. Houve 6 votos em branco. No primeiro turno, Chinaglia teve 236 votos e Rebelo, 175. O candidato da chamada terceira via, Gustavo Fruet (PSDB-PR), ficou com 98 votos e houve 3 votos em branco. Salvo a dúzia de suplentes que assumiram os mandatos após as eleições municipais, o colégio eleitoral é o mesmo. O fantasma de Severino Para o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que disputa a Presidência da Câmara pela segunda vez, o perfil de seu principal adversário, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), é semelhante ao do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), derrotado por Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2005. Ungido pelo Palácio do Planalto, o petista foi atropelado pelo parlamentar pernambucano, que galvanizou os votos do chamado ;baixo clero;. ;Do ano-novo até agora, já conversei com mais de 300 deputados, a maioria dos quais Temer sequer conhece pelo nome;, dispara Nogueira, ex-pupilo de Severino. Segundo Nogueira, a votação de Temer será semelhante à de Greenhalgh, que alcançou 195 votos no segundo turno da eleição, contra 300 votos de Severino, entre 498 parlamentares presentes. ;O segundo turno já está garantido, só não tenho certeza de quem vai chegar em primeiro. Mas Temer terá menos votos no segundo turno do que no primeiro, como aconteceu com Greenhalgh;, avalia. Na eleição de 2005, o candidato do PT obteve apenas 207 votos no primeiro turno, por causa de um racha na base governista. O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que se rebelou contra a candidatura oficial do governo, obteve 117 votos como candidato avulso. Os demais candidatos foram José Carlos Aleluia(BA) e Jair Bolsonaro (RJ), ambos do antigo PFL, que obtiveram 53 e 2 votos, respectivamente. O raciocínio de Nogueira parte do princípio de que a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-ministro da Articulação Política do governo Lula e candidato do chamado ;bloquinho;, desempenhará o mesmo papel da candidatura dissidente de Virgílio em 2005. ;Nós vamos nos unir no segundo turno, essa é a tendência pelo que conversamos até agora;, garante Nogueira, se referindo aos conchavos que vem mantendo com Aldo e o também candidato Osmar Serraglio (PMDB-PR), um dissidente da bancada peemedebista que hoje controla a poderosa Primeira-Secretaria da Câmara. (LCA) O que leva o presidente da câmara # A segunda posição na linha sucessória da Presidência da República # Julgar pedidos de impeachment contra o presidente da República # Comandar a Casa nos últimos dois anos do governo Lula e durante as eleições de 2010 # O direito de convocar e presidir as sessões em plenário # A condução das reformas políticas e tributárias # Escolher qual será a pauta de votações # Desempatar as votações # Morar na residência oficial, na Península dos Ministros # Administrar um orçamento de R$ 3,5 bilhões