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Presidência do Senado só deve se definir às vésperas da eleição

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Numa conversa reservada, na semana passada, o senador Tião Viana (PT-AC), candidato à Presidência do Senado, fez uma conta dos votos que teria se a eleição fosse hoje. O resultado variou entre 32 e 52 votos. Uma enorme margem de erro, demonstração clara da inconsistência das lealdades nesta disputa de bastidores. A eleição para o Senado é tão complexa que o principal nome é um parlamentar que recusa a se assumir como candidato: José Sarney (PMDB-AP). Os senadores mais experientes avaliam que o quadro só se definirá às vésperas da eleição, marcada para 2 de fevereiro. Hoje, a indefinição atinge a maioria das bancadas, à espera da decisão de Sarney. O PMDB é a maior bancada, com 20 parlamentares. Em princípio teria o direito de indicar o presidente, mas o PT desafiou a tradição, com o argumento de que os peemedebistas vão comandar a Câmara. O partido hoje tem dois candidatos, mas nenhuma garantia de que qualquer um deles chegará ao dia da votação. O primeiro, Garibaldi Alves Filho (RN), atual presidente, é alvo de dúvidas jurídicas. O regimento do Senado proíbe a re-eleição na mesma legislatura. Ele argumenta que a proibição não se aplica porque estaria cumprindo um mandato tampão. Garibaldi jura que vai até o fim, mas já disse que pode desistir se a bancada pedir formalmente. O grupo que apoia Sarney é majoritário e não teria dificuldades de aprovar este pedido. A dúvida é se o ex-presidente da República se apresentará como candidato. Se Sarney for o escolhido, deverá ter a grande maioria dos votos, mas há dúvidas sobre a postura dos rebeldes do PMDB, grupo que inclui senadores como Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). A definição do PMDB afetará as outras legendas. DEM e PSDB, cada um com 13 parlamentares, preferem votar em Sarney. Os dois partidos já enviaram emissários para pedir que ele aceite entrar na disputa. Em princípio, a oposição deveria ter mais simpatia com Garibaldi. Enquanto Sarney é visceralmente ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador potiguar comprou várias brigas com o governo durante sua passagem pela presidência. Na mais recente e ruidosa, anunciou a devolução de uma medida provisória. Mas falam mais alto as relações internas. Sarney construiu alianças sólidas em vários partidos. Além disso, a oposição o considera mais capaz de vencer Tião Viana. No início da campanha, alguns tucanos e democratas demonstraram simpatia por Tião Viana. Em parte por reação ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), principal aliado de Sarney. Em parte para esvaziar o grupo do PMDB no Senado, considerado a ala do partido mais próxima a Lula. Mas à medida que as articulações avançaram, falou mais alto a resistência ao PT. Governistas Tião aproveitou o vácuo deixado pela indefinição de Sarney para ganhar o apoio de vários partidos governistas. Fechou com o PDT, PR e PSB. Ainda negocia com o PTB, que espera por uma definição de Sarney. O petista conta ainda com os 12 votos de sua bancada e aposta em algumas traições entre os partidos de oposição. Ironicamente, o senador, que apresentou a proposta de acabar com o voto secreto nas eleições parlamentares, deposita boa parte de sua esperança no sigilo da votação.