O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, em viagem a Maracaibo, a proposta de um referendo que poderá dar ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, poderes para se re-eleger de maneira ilimitada. Segundo o presidente, Chávez é ;jovem e aguenta um novo mandato;. Ao lado do presidente venezuelano, Lula ressaltou que é contra essa brecha política no Brasil, mas alegou que concorda com o mecanismo na Venezuela porque esse tema é ;cultural;, prevalecendo a ;vontade de cada povo;.
Nas palavras do presidente, quando a população não quiser, não votará mais em Chávez, que está no poder desde 1999. Re-eleito em 2006, o presidente da Venezuela sonha com a possibilidade de não deixar tão cedo o cargo. Seu aliado, Lula nunca escondeu o apreço pelo político vizinho, adotando posturas que têm incomodado a oposição, crítica ferrenha do presidente venezuelano.
A oposição reagiu duramente às declarações dadas ontem por Lula. Tucanos e democratas rebateram descartando qualquer ameaça de retorno da discussão de um eventual terceiro mandato ao petista no Palácio do Planalto. ;Ele (Lula) sempre estimula, sempre foi assim. Mas a democracia não será enfraquecida por declarações oportunistas do presidente;, afirmou o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ). ;A democracia não foi feita para as pessoas;, disse o senador Sérgio Guerra (PE), que preside o PSDB.
Plebiscito
Para minimizar a repercussão no Brasil desse apoio a Chávez, Lula deixou claro que ;obviamente; trabalhará para eleger seu sucessor. O problema é que, desde 2007, parlamentares petistas articulam um movimento para tentar abrir um caminho que altere a Constituição de olho na possibilidade de Lula disputar um terceiro mandato, já que as leis brasileiras permitem hoje apenas uma re-eleição no Poder Executivo. Os deputados Devanir Ribeiro (PT-SP) e Carlos Willian (PTC-MG), por exemplo, defendem um plebiscito para tratar do assunto.
Apesar das garantias de Lula de que não concorda com isso, a oposição sempre rebate qualquer declaração considerada ameaçadora. Informado do discurso do presidente, o senador Sérgio Guerra não poupou críticas. ;Toda vez que o presidente Lula fala isso, nós, democratas, ficamos preocupados. Uma democracia não pode de maneira alguma usar questões culturais para defender governos autoritários;, afirmou. ;Esse tipo de coisa incentiva os oportunistas de plantão;, ressaltou, referindo-se a quem planeja uma forma de Lula concorrer a mais um mandato. Para Rodrigo Maia, o presidente tentou ainda agradar ao colega Hugo Chávez. ;Às vezes, o que o presidente diz não deve ser levado à sério. O presidente Lula é muito pragmático;.
Em recentes entrevistas durante o ano passado, o presidente da República negou qualquer simpatia por um terceiro mandato no Palácio do Planalto. Lula diz que voltará para sua casa em São Bernardo do Campo assim que deixar o cargo em janeiro de 2011. Ontem, voltou a afirmar que trabalhará para eleger seu sucessor. A favorita dele é a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Repaginada após uma plástica no rosto no começo do mês, Dilma ganhará mais destaque no Planalto em 2009 para se viabilizar à eleição presidencial no ano que vem.