A proposta de R$ 44,3 milhões da empreiteira goiana Valenge para executar a segunda etapa da reforma dos apartamentos funcionais da Câmara indica que a estimativa de custos de R$ 53,8 milhões feita pela Casa estaria 21% acima dos preços de mercado. O deságio oferecido pela Valenge resultará numa economia de R$ 9,4 milhões. Mas a direção da Câmara reafirma que a sua estimativa corresponde aos preços reais de mercado e prevê que a empreiteira terá dificuldades para cumprir o contrato. O mesmo estaria ocorrendo com a empresa que realiza a primeira etapa da reforma, a cearense Palma.
Após a conclusão da licitação, o diretor de Engenharia da Câmara, Reinaldo Brandão, recebeu o dono da Valenge, Fabrício Soares, e avisou: ;Vocês deram um preço baixo;. O empresário respondeu prontamente: ;Temos consciência disso. Entramos para ganhar;. Ele procurou explicar a estratégia da empresa. ;Temos obras no valor total de R$ 100 milhões. Temos um poder de compra muito grande. Temos uma fábrica de esquadrias dentro da obra, temos serralheiro. Isso baixa muito o preço;, disse. Soares acrescentou que ;a empresa está capitalizada;, o que reduz o custo financeiro da obra.
Com um deságio elevado, a Valenge pôde aumentar a taxa de bonificação e despesas indiretas (BDI) de 14,8%, como estimou a Câmara, para 27%. O BDI cobre as despesas com impostos, administração da obra, e define o lucro da empresa. Com a estimativa da Câmara, o lucro seria em torno de 3%. Com o percentual de 27%, está fixado em torno 8%, calcula Brandão. Mas ele acrescenta que a maior parte do lucro deverá ser comido pelo esforço da empresa para viabilizar a obra com preços baixos. Na maioria dos itens da planilha de custo, a Valenge ofereceu um deságio de 14,5%. Só com a compra de 120 banheiras, a Câmara gastaria R$ 315 mil. Agora, vai gastar R$ 269 mil. O custo da reforma de cada um dos apartamentos caiu de R$ 449 mil para R$ 369 mil.
Competitividade
O diretor de Engenharia afirma que a maioria dos preços estimados pela Câmara foi retirada da Tabela Pini, uma planilha de composição de preços que representa a média nacional de consumo de mão-de-obra, equipamentos e material. Para os itens que não têm cotação na Tablee Pini, a Câmara faz uma pesquisa de mercado. Mas o diretor admite que as lojas geralmente apresentam preços acima do mercado. ;Ali, não tem negociação, não tem pressão para baixar. Se baixarmos para menor, não vai haver competitividade. E todos terão que entrar com o mesmo preço.;
Brandão afirma que já ouviu queixas da empresa Palma, que toca a primeira etapa da reforma dos apartamentos. São 96 unidades ao custo total de R$ 29 milhões. ;A Palma está reclamando. Diz que está rolando o dinheiro para tocar a obra. Mas a fiscalização da Câmara é rígida. A empresa vai ter que rebolar para baixar os custos;, avisou o diretor de Engenharia. O Correio entrou em contato com a sede da empresa Palma em Fortaleza e informou o conteúdo da reportagem. Não houve retorno.