Na semana passada, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) espalhou a versão de que seu grupo poderia apoiar a candidatura de Pedro Simon (PMDB-RS) à Presidência do Senado. A história causou estranheza, afinal Simon é um adversário duro do parlamentar alagoano. Foi vista como uma tentativa de ameaçar o Palácio do Planalto com a possibilidade de entregar o comando do Congresso a um político conhecido por sua independência e rebeldia. Mas o que o próprio Simon diz a respeito? ;É mentira. Ninguém me procurou para falar nisso. Todo mundo sabe que eu não aceito e todo mundo sabe que eles não me querem.;
;Eles;, no caso, são o próprio Renan e o senador José Sarney (AP), os parlamentares que controlam a maioria da bancada do PMDB. Simon chega a achar graça da possibilidade de tornar-se o candidato do grupo que sempre o hostilizou. ;Parece brincadeira;, diz. Lembra que seu nome foi cogitado no fim do ano passado, quando Renan Calheiros teve de renunciar à presidência, após ser acusado de usar os serviços de um empreiteiro para pagar a pensão de uma filha que teve fora do casamento.
Na ocasião, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) recolheu 36 assinaturas de parlamentares de diversos partidos pedindo que o PMDB indicasse Simon para a presidência. O número estava muito próximo dos 41 votos necessários para eleger o presidente, o que o tornava um candidato viável, desde que fosse apontado por sua bancada. Ele apresentou o nome aos senadores peemedebistas, mas teve apenas sete votos na reunião do partido. Quem articulou sua derrota foram Renan e Sarney. O senador diz que se recusa a fazer o papel de espantalho da bancada para assustar o governo e desautoriza o uso de seu nome nas especulações.
Sarney
Enquanto Simon se declara fora da disputa, Sarney voltou a ela. Oficialmente, ele continua a dizer que não quer a Presidência do Senado, mas seu último movimento convenceu a Casa de que essas negativas não são definitivas. Ele articulou o adiamento da reunião que a bancada faria amanhã, para decidir ou não pela candidatura própria. A seu pedido, nenhuma decisão será tomada até janeiro. Isso dá ao veterano senador mais tempo para definir seu rumo.
O partido precisa da candidatura de Sarney ou, ao menos, da perspectiva dela. O ex-presidente é o único nome na bancada que transita com facilidade entre os partidos de oposição. Se concorrer, é praticamente imbatível. O problema é convencê-lo a disputar. O senador tem aversão a disputas no voto e o petista Tião Viana (AC) já se lançou candidato e não se mostra disposto a ceder.
Na semana passada, a simples possibilidade de que Sarney estivesse falando sério sobre sair do páreo dividiu a bancada do PMDB. O senador Romero Jucá (RR), líder do governo, passou a articular o apoio do partido a Tião Viana, o que o fez bater de frente com Renan.
A estratégia dos peemedebistas é jogar a definição para o ano que vem. Para fazer isso, é preciso manter a alternativa de lançar o ex-presidente. Ele enfrenta um problema pessoal. Sua filha, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) será operada, para retirar um aneurisma cerebral. O consenso, no Senado, é que ele não tomará uma decisão até depois da cirurgia.