O PMDB começou uma campanha nos bastidores para pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Caciques peemedebistas consideram o delegado incapaz de controlar as diversas alas de agentes e o responsabilizam pelos sucessivos desgastes causados ao governo e a políticos do partido.
Na avaliação de peemedebistas, não adianta mirar no ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem a PF é subordinada. As investidas contra Tarso não foram bem-sucedidas, sobretudo por conta do prestígio com Lula. Então, defendem a saída de Corrêa e a entrada de um delegado com perfil parecido com o de Paulo Lacerda, que comandou o órgão no primeiro mandato de Lula e acabou deslocado para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Os peemedebistas acreditam que com Corrêa a PF tornou-se imprevisível por conta da descentralização das ações, ao dar mais poder para as superintendências. ;A Polícia Federal sempre trouxe problemas para o governo, é histórico isso. Mas desde a chegada do Luiz Fernando Corrêa as coisas pioraram e está cada vez mais evidente a briga das alas. O Lacerda pelo menos controlava isso e era respeitado;, disse um senador do PMDB. ;Falta também jogo de cintura para ele (Corrêa) comandar esse cargo. É preciso ser um pouco político também. O cargo de diretor da Polícia Federal merece alguém com mais experiência;, acrescentou.
Na prática, tentar desgastar o diretor-geral da PF é uma estratégia também para enfraquecer o ministro. Parlamentares do PMDB entendem que a era Corrêa tem perfil visceral igual à maneira que Tarso, segundo esse visão, faz política. ;O ministro comprou muita briga por aí e o escudeiro dele é o Luiz Fernando Corrêa;, disse um deputado.
Protógenes
O problema mais recente é o atrito entre as diversas alas da PF por conta da Operação Satiagraha, comandada pelo delegado Protógenes Queiroz. As desavenças ficaram ainda mais evidentes com a divulgação do conteúdo de uma conversa entre Protógenes e a cúpula da Polícia. Na reunião, o delegado omite informações sobre o uso de agentes da Abin na operação e admite vigilância em cima de gabinetes do Supremo Tribunal Federal. Luiz Fernando Corrêa é acusado por setores do partido também de administrar mal essa crise ao expor colegas e jogá-los aos leões, nas palavras de um peemedebista.
Na realidade, a crise da Satiagraha é apenas um gancho para caciques peemedebistas tentarem adequar o perfil da Polícia Federal e conter ímpetos contra políticos. O senador José Sarney (PMDB-AP) ficou furioso com a ação da PF sobre seu filho Fernando. Renan Calheiros (PMDB-AL) acredita que Tarso conspirou para afastá-lo da Presidência do Senado. Como a queda do ministro está difícil de se concretizar, o PMDB quer, pelo menos, reduzir a influência dele na PF. No pacote de mudanças propostas por peemedebistas entra até a cabeça de Paulo Lacerda, que teria dado aval a Protógenes para utilizar os mais de 80 arapongas na Satiagraha.