Escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apadrinhar a indicação de José Gomes Temporão na pasta da Saúde, a bancada do PMDB na Câmara não pedirá a demissão do ministro apesar de acumular uma série de queixas contra ele. Por dois motivos. O grupo não quer correr o risco de perder o controle da pasta, que tem orçamento anual de cerca de R$ 50 bilhões e é cobiçada pelo PT. Além disso, avalia que a exoneração, se realizada, abrirá espaço para os senadores peemedebistas conquistarem mais poder no governo.
Segundo deputados, a bancada do PMDB no Senado, aproveitando-se da queda de Temporão, pode formalizar ao presidente uma proposta que corre nos bastidores: apoiar a indicação do senador Tião Viana (PT-AC) para o Ministério da Saúde em troca do direito de continuar na Presidência da Congresso, hoje exercida pelo senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Médico, Viana é o único candidato declarado a suceder Garibaldi. Longe dos holofotes, enfrenta a resistência dos peemedebistas, que esperam emplacar o senador José Sarney (PMDB-AP) no posto.
;O Ministério da Saúde não pode ser usado como moeda de troca em disputa partidária. Eu conheço os senadores do PMDB. Sei que jamais proporiam algo assim;, diz o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Os deputados não querem abrir mão do ministério porque disputam com os senadores o controle da legenda e a prerrogativa de representar a sigla nas negociações sobre a sucessão presidencial. Atualmente, o presidente do PMDB é o deputado Michel Temer (SP). Concorrente à Presidência da Câmara, Temer é fritado pelos senadores, que querem destroná-lo e substituí-lo por um senador.
Banho-maria
Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) afirma que a bancada, já decidida a lutar pela Presidência da Casa, não pretende discutir com Lula a saída de Viana do páreo e sua nomeação para a Saúde. ;Não dá para pensar em alternativas agora. Isso é mera especulação, que atrapalha mais do que ajuda;, declara Jucá. ;É igual a jogo de futebol. Temos que gastar o tempo, tocar a bola e esperar o momento certo para atacar;, acrescenta. Na semana que vem, o presidente receberá ministros do PMDB, no Palácio do Planalto, para tratar da sucessão na Câmara e no Senado.
Lula defende as eleições de Temer e de Viana. Admite, no entanto, chancelar Sarney caso o ex-presidente seja candidato. Outra possibilidade estudada por articuladores políticos é compensar senadores peemedebistas por eventual apoio ao PT. Nesse caso, a aposta principal recai sobre a substituição do petista Tarso Genro por Nelson Jobim no Ministério da Justiça. Filiado ao PMDB e titular da Defesa, Jobim comandaria com mãos-de-ferro a Polícia Federal, cujas ações já tiveram como alvo dois filhos de Sarney ; a senadora Roseana (PMDB-MA) e o empresário Fernando.
Exigência e respeito
A bancada do PMDB na Câmara tentará enquadrar o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Considerando-se ignorada pelo afilhado, quer ser consultada sobre as decisões da pasta. Além disso, cobrará um tratamento mais respeitoso ao presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Danilo Forte. Não é à toa. A Funasa é um antigo filão peemedebista na administração federal. Já Forte é uma indicação do deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro das Comunicações.
;O Temporão é competente, qualificado. O problema é a equipe dele. São muito fechados, não discutem as decisões que serão tomadas;, reclama o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Sempre cordial mas nunca amistosa, a relação entre as partes voltou a azedar na quarta-feira, quando o ministro acusou a Funasa de ser um antro de corrupção. Peemedebistas reagiram imediatamente e pediram explicações a Temporão.
Em conversa com Alves, ele disse que não se referiu à atual gestão, mas às anteriores, as quais também estavam sob a batuta da legenda. Os deputados também reclamam do fato de o ministro ter resolvido, sem consultar a Funasa, tirar do órgão e passar para o ministério a competência para cuidar da saúde indígena. ;Não basta decidir e ponto. Já falamos para ele chamar o Danilo para conversar. Ele fala que vai chamar, mas não chama. A Funasa merece mais atenção. É um órgão com imensa capilaridade e atuação em todo o país;, acrescenta Alves.
Abandono
No início deste ano, a bancada do PMDB na Câmara cogitou abandonar a indicação de Temporão. Na época, reclamava, além da independência do ministro, da lentidão dele para atender pedidos, como liberação de emendas e nomeações para escalões inferiores. Dois fatores impediram a execução do plano: o temor de o PT assumir a pasta e o fato de a escolha de Temporão ser, na verdade, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).