Depois das divergências entre a Polícia Federal e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nos desdobramentos da Operação Satiagraha, parlamentares da oposição decidiram apresentar um relatório paralelo na CPI das Escutas Clandestinas da Câmara caso o relator, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), não sugira indiciamentos de integrantes da PF ou da agência ao final dos trabalhos da comissão.
Os oposicionistas argumentam que a CPI não pode encerrar os trabalhos sem sugerir indiciamento dos principais envolvidos em supostas escutas telefônicas clandestinas, realizadas durante a Satiagraha.
"Há elementos para pedirmos indiciamentos. Vamos preparar voto em separado caso o relator não apresente esses pedidos. Se não houver esse gesto da comissão, será a diminuição da CPI", afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).
A oposição ainda não definiu os pedidos de indiciamento que pretendem sugerir no voto paralelo. Os deputados do PSDB pediram um levantamento técnico de todos os depoimentos prestados à comissão para encontrar indícios de falso testemunho --o que justificaria o indiciamento.
"Indiciamento ainda não é o julgamento. Os últimos fatos mostram que não há como a CPI fugir disso", afirmou o deputado. O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), já defendeu publicamente o indiciamento do diretor-geral afastado da Abin, Paulo Lacerda.
Itagiba disse ser favorável ao indiciamento de todos os que "faltaram com a verdade" nos depoimentos à comissão. O presidente da CPI argumenta que Lacerda, em seu depoimento à comissão, disse que apenas "duas ou três pessoas" da Abin haviam participado da Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Posteriormente, a comissão descobriu que mais de 20 agentes da agência auxiliaram a PF nas investigações da operação. Pellegrino ainda não adiantou se pretende sugerir o indiciamento de integrantes da PF e Abin. Aliado do Palácio do Planalto, o relator se mostrou contrário à convocação do chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, assim como do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh --ex-advogado petista. A estratégia de Itagiba e da oposição é pressionar o relator para endurecer o tom no relatório final.
Deputados do PSDB temem que, como aliado do presidente Lula, Pellegrino elabore um texto "morno", o que poderia comprometer as investigações da comissão.