O governo tece um colchão bilionário para sobreviver à crise financeira mundial em 2009 e chegar com força à disputa presidencial em 2010. Numa tentativa de demonstração de força, diz que terá à disposição cerca de R$ 100 bilhões para investimentos públicos no próximo ano. A idéia é usar os valores, mesmo que não sejam integralmente desembolsados, a fim de mostrar que a administração fará sua parte em defesa do crescimento econômico. E, assim, estimular a iniciativa privada a tirar projetos do papel mesmo num cenário de incertezas.
Afiançado na palavra da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está certo de que a União manterá o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em ;ritmo de cruzeiro; e montará um cardápio recheado de obras a serem inauguradas até 2010. O presidente teme, no entanto, que o setor privado pise no freio, seja pela escassez e encarecimento do crédito, seja pelo receio de que haja uma queda no consumo das famílias. Esse cenário, se confirmado, contribuirá para a desaceleração da economia e, em conseqüência, para a redução da avaliação positiva do governo.
Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá cerca de 5%. No ano que vem, subirá 4%, conforme o ministro Guido Mantega (Fazenda); 3,7% ou 3,8%, segundo Paulo Bernardo (Planejamento); ou 3,5%, tal qual prevêem técnicos envolvidos na revisão da proposta de Orçamento da União de 2009. ;Há um reposicionamento dos investimentos. É inegável;, diz o senador Delcídio Amaral (PT-MS), relator da proposta orçamentária. ;Está difícil captar recursos. Os bancos estão avessos aos empréstimos, e as empresas, reavaliando o planejamento;, acrescenta.
Ciente da situação, Delcídio redige o relatório em sintonia com o Planalto. Dos R$ 39 bilhões em investimentos da União previstos inicialmente, a meta é manter pelo menos R$ 21 bilhões, relativos ao PAC. No caso das estatais, trabalha-se para que metade dos R$ 80 bilhões em investimentos não seja suspensa devido à crise. Se tais objetivos forem cumpridos, o Orçamento de 2009 abrirá a possibilidade de R$ 61 bilhões em investimentos públicos. Neste ano, até outubro, foram R$ 43,23 bilhões pelos cálculos da Associação Contas Abertas.
Fundo Soberano
O governo espera contar com outros dois mecanismos para injetar recursos em infra-estrutura. Um deles são os valores já empenhados do PAC, mas ainda não pagos. Em 23 de outubro, havia R$ 26,4 bilhões nessa conta. Há ainda a expectativa pela aprovação no Congresso do projeto que cria o chamado Fundo Soberano, cujos R$ 14 bilhões, economizados neste ano, seriam usados em 2009 para estimular a economia. O texto já passou na Câmara, mas enfrentará resistência da oposição no Senado.
Sorriso largo no rosto, um assessor do presidente afirma que, mesmo com a crise, Lula e Dilma terão uma obra para inaugurar por semana em 2009. Em 2010, seriam duas. Coincidência ou não, a ministra ; favorita para representar o governo na próxima corrida presidencial ; disse, na quinta-feira passada, que o ;PAC é um passaporte para o futuro;.