O senador Tião Viana (PT-AC) anda nervoso e desconfiado. Candidato à Presidência do Senado, vê inimigos e conspirações em todo canto. Na terça-feira, telefonou para o colega de bancada Delcídio Amaral (MS), que também aparece nas listas de presidenciáveis. ;Soube que seu gabinete está preparando dossiês contra mim;, cobrou. Delcídio negou e desligou o telefone irritado. O incidente mostra que o clima não anda bom nem na bancada do PT.
Ontem, Tião procurou líderes da oposição, como Arthur Virgílio (PSDB). Tenta reduzir as resistências dos oposicionistas a seu nome. As conversas foram muito educadas, como costuma acontecer no Senado. Mas não fizeram as negociações avançarem um centímetro, como também é hábito da Casa. A oposição não quer de jeito nenhum ver um petista na Presidência.
;Vamos apoiar um nome do PMDB;, confidencia um dos líderes oposicionistas. A lógica é política e de longo prazo. Para começar, um presidente peemedebista eleito com apoio da oposição teria menos alinhamento com o Palácio do Planalto. ;Além disso, vamos aproveitar qualquer chance para criar uma briga entre PT e PMDB.; Faz sentido. Fortalecido pelos resultados da eleição municipal, o PMDB é o aliado mais disputado para a corrida presidencial de 2010. Quanto mais tensas forem as relações entre os dois partidos no Congresso, mais difícil será o acordo eleitoral.
O problema de Tião Viana é que o PT não tem a maior bancada do Senado. O posto, que dá a primazia de indicar o presidente, é do PMDB. Os senadores do PT tentam fazer os peemedebistas abrirem mão, com o argumento de que seu partido apoiará o deputado Michel Temer (PMDB) para a Presidência da Câmara.
Os senadores do PMDB não aceitam. Há resistências ao PT e a Tião Viana. E a tentativa de ficar com o comando das duas casas do Congresso. Até porque senadores e deputados peemebistas disputam o comando do partido. Se só uma bancada vencer, pode desequilibrar a briga interna.
Equilíbrio
O PT da Câmara fragilizou a posição de Tião. Os deputados perceberam que seria arriscado demais condicionar as duas eleições. Os petistas concluíram que podiam ficar sem nada e ainda dificultar o acordo com o PMDB para 2010. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, reuniu-se na terça-feira com Michel para dar o seguinte recado: não há vinculação formal entre a eleição da Câmara e do Senado. ;O que há é um entendimento do PT e de boa parte dos peemedebistas de que é importante que se tenha equilíbrio entre a Câmara e o Senado. Não há precondição para o apoio ao Michel Temer;, afirma o petista.
Para acalmar os ânimos, Berzoini declarou que o candidato do PT à Presidência da Câmara é Temer. ;É importante prestigiar o Michel para mostrar que não estamos fazendo jogo de pressão;, disse. Mas ele tenta usar a preservação da aliança governista como argumento para convencer o PMDB a abrir espaço no Senado. ;Precisamos de estabilidade política. O objetivo é uma eleição tranqüila com nível de alinhamento pleno da base, elegendo o Temer e Viana;, afirmou.