Apesar da avaliação popular recorde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT encolheu, ainda que timidamente, nestas eleições municipais, considerando-se a votação conquistada. No domingo (5/10), o partido recebeu 16.104.464 votos, cerca de 45 mil a menos do que em 2004. E, assim, perdeu o título de campeão de votos que ostentava até então. Dono das maiores bancadas da Câmara e do Senado, o PMDB assumiu o posto, depois de saltar de 13.752.794 para 17.871.870 entre os dois pleitos. Petistas rechaçam a tese de que a estabilidade no total de eleitores signifique uma derrota da legenda, a qual deveria se beneficiar da popularidade e dos quase seis anos de gestão Lula.
De acordo com eles, o resultado decorre de uma mudança de postura. A sigla teria deixado de lado um comportamento hegemônico, vigente em 2004, para fechar mais parcerias com as outras 13 legendas que apóiam o governo. ;O PT aumentou o número de alianças e está muito satisfeito com o resultado obtido;, diz o secretário nacional de Comunicação do partido, Gleber Naime. ;Não podemos querer tudo. Não dava para aumentar a votação e as coligações ao mesmo tempo;, acrescenta. Naime lembra que os petistas não lançaram candidatos, por exemplo, em Belo Horizonte e Aracaju, figurando como vice em chapas encabeçadas por PSB e PCdoB, respectivamente.
Nesta segunda-feira (6/10), petistas mostraram harmonia no discurso. Entoavam, em uníssono, a cantilena da ;vitória sem precedentes;, conforme expressão cunhada pelo deputado cassado José Dirceu, ex-presidente do PT. Para justificar essa análise, recorriam a outros dados colhidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um deles mostra que o partido conquistou 546 prefeituras, 33% a mais do que em 2004. Outro revela que o PT teve o melhor desempenho nas 79 maiores cidades do país. Nesse universo, venceu 13 vezes em primeiro turno e está no segundo turno em 15 municípios.
;Fizemos mais prefeituras e somos o segundo mais votado. O PT é um partido em crescimento. Nossos oponentes vaticinavam o nosso fim há quatro anos e continuamos muito bem;, afirma o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). O deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) também cita as alianças como fator responsável pela votação conquistada. ;Antes, éramos o partido central do governo. Agora, você tem uma coalizão que representa nosso governo. Então, é preciso cuidado com a análise fácil.;
Coligação ampla
Vaccarezza foi porta-voz ainda de outro mantra caro aos correligionários: os resultados colhidos por PT e PMDB reforçam a tendência de formação de uma coligação ampla, nos moldes da coalizão governista atual, em 2010. Se depender do Palácio do Planalto, isso ocorrerá, com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na cabeça da chapa, tendo como vice um peemedebista. ;Claro que a eleição de 2008 não é a de 2010, mas é importante ouvir de forma atenta os sinais que as urnas nos dão para o processo sucessório. Governar com sustentabilidade propicia o fortalecimento das alianças com os partidos que dão apoio ao governo Lula;, diz a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
Em reunião com o chamado conselho político, o presidente reforçou o coro. Diante de líderes governistas, disse que só três legendas devem ficar preocupadas com o resultado de domingo: PSDB, DEM e PPS. O número de votos recebidos pelos dois primeiros oposicionistas caiu, entre 2004 e 2008, de 15.022.608 para 14.243.912 e de 10.636.233 para 9.212.697.
O presidente nacional tucano, senador Sérgio Guerra (PE), antecipou-se à provocação. Horas antes da reunião, lembrou que o PT conquistou praticamente a mesma quantidade de prefeitos que o PP. ;A previsão catastrófica sobre a oposição não se confirmou. O presidente Lula não era aquela assombração.;