O candidato que surpreendeu na campanha eleitoral da maior cidade do País não é adepto dos discursos e dos palanques, prefere os bastidores. É jovem, solteiro, assumiu a Prefeitura por acaso. Ninguém o conhecia e os paulistanos só prestaram atenção ao prefeito quando ele perdeu a paciência e, aos gritos de "vagabundo", expulsou Kaiser Paiva da Silva de uma unidade de saúde. Hoje, Kaiser disputou uma vaga na Câmara Municipal pelo PSC, partido aliado do prefeito. Além de reverter este incidente Kassab passa ao segundo turno dessas eleições derrotando o ex-governador Geraldo Alckmin e ameaçando a liderança do PT na capital.
Para o cientista político e conselheiro do Movimento Voto Consciente, Humberto Dantas, além de contar com uma equipe de campanha muito eficiente, Kassab conseguiu aglutinar o apoio do eleitorado mais conservador da capital, que estava órfão desde a morte de Jânio Quadros e o declínio do malufismo. "Com o esvaziamento da direita, esses eleitores encontraram no democrata o candidato ideal, num resgate das forças conservadoras", destacou o cientista. Dantas avalia também que o segundo turno deste pleito será muito acirrado, pois o antipetismo é muito forte entre os paulistanos, representando praticamente a metade do eleitorado.
E não foi só o apoio do eleitorado conservador que Kassab conquistou - inclusive dos janistas da Vila Maria, reduto histórico de Jânio Quadros. Depois de enfrentar resistências internas para ser alçado a vice-candidato na chapa encabeçada pelo então candidato à Prefeitura nas eleições de 2004, o tucano José Serra, o democrata também abriu fileiras em uma das mais tradicionais alas tucanas de São Paulo e hoje é tido como escudeiro fiel de Serra. Questionado sobre a simpatia que conquistou em uma importante ala do ninho tucano, ele apenas sorri e diz que prefere conversar a respeito das propostas para a cidade.
E essa postura discreta, Kassab tem levado em sua campanha nas ruas. No embate diário, ele sorri o tempo todo, cumprimenta eleitores, tira fotos e abraça crianças, empolgadas com o "kassabinho", boneco inflável que imita as feições do prefeito e está presente em todas as atividades de campanha. O que não o diferencia dos típicos candidatos é a tradicional parada nas padarias dos bairros para tomar um cafezinho. Mas o democrata está de dieta, por isso, come com comedimento. Já emagreceu 13 quilos.
Aos 48 anos, Kassab já foi vereador, deputado estadual e, por duas vezes, deputado federal. Foi também secretário de Planejamento do ex-prefeito Celso Pitta, e embora Pitta o acuse de ingratidão, fala para quem quiser ouvir que se arrepende de ter feito parte daquela gestão. Na prefeitura, o maior trunfo de Kassab foi o lançamento do Programa Cidade Limpa, que retirou milhares de outdoors da capital paulista. Apesar de ter comprado briga com comerciantes e empresários, a população paulistana aprovou.
Em sua gestão, fez questão também de aparecer retirando placas irregulares de estabelecimentos com as próprias mãos. Fechou centenas de postos que vendiam combustível adulterado. Incluiu os caminhões no rodízio municipal da cidade. Mas também voltou atrás e admitiu erros, quando permitiu que as motos voltassem a circular nas marginais e deu fim ao corredor exclusivo na Avenida 23 de Maio depois de uma semana de experiência.
Embora pertença ao DEM, Kassab se identifica como um candidato tucano. Evita atacar os adversários e não dá atenção às críticas. Atende bem vereadores e subprefeitos - ele sabe o quanto isso faz diferença e se traduz em votos em redutos da periferia dominados por esse tipo de liderança. Procura mostrar otimismo e confiança, não se abate com eleitores que cobram melhorias nos bairros nem com aqueles que não o recebem bem e declaram voto nos adversários. Até mesmo os adversários reconhecem esses trunfos e sabem que, apesar de gostar dos bastidores, hoje ele está no centro dos holofotes.