As eleições deste domingo (05/10) vão confirmar uma tendência já conhecida: quem está no cargo de prefeito tem uma enorme chance de se manter no poder. A vantagem dos que tentam a reeleição e a preferência de grande parte dos brasileiros pelo continuísmo é tão conhecida que, em todo país, 77% dos atuais chefes dos executivos municipais tentarão renovar seus mandatos. A maioria deles com grandes chances de vitória. Nas disputas pelas capitais, por exemplo, dos 20 prefeitos que tentam se reeleger, 13 devem vencer já no primeiro turno, enquanto os outros sete atingiram índices nas pesquisas que lhes garantem uma vaga no segundo turno.
Candidatos à reeleição e adversários concordam que estar à frente da prefeitura possibilita vantagem na disputa, mas discordam radicalmente dos motivos que justificam o fenômeno do continuísmo. Enquanto os favoritos dizem que vencer é a retribuição de um bom trabalho, adversários alegam que o alto índice de preferência é resultado do uso da máquina administrativa. Para o cientista político David Fleischer, a vantagem eleitoral de quem já ocupa o cargo é resultado da soma das duas coisas. ;Claro que há a avaliação sobre a gestão do prefeito. A população pode dizer se ele foi bom ou não quando ele se candidata a permanecer no posto. Por outro lado, estar à frente da estrutura possibilita alguns benefícios durante a campanha;, diz.
O atual prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB), admite as vantagens do cargo em uma disputa. ;Nós estamos fazendo a cidade mudar, somos bem-avaliados e isso reflete na pesquisa. Se fosse um prefeito mal-avaliado, não seria reeleito;, afirma. De acordo com o prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB), a boa avaliação da administração é o fator determinante para garantir a permanência de um prefeito no cargo. ;Tudo ajuda. Mas, se o cara for ruim, não tem uso de máquina que o faça decolar nas pesquisas. Vou vencer porque fui um bom prefeito durante os últimos quatro anos;, prevê.
Os argumentos dos dois candidatos que caminham para uma vitória já no primeiro turno se baseiam numa teoria difundida nos Estados Unidos, segundo a qual a reeleição é um pleito diferente, porque mede muito mais a qualidade de uma administração do que a competência dos adversários. No jargão eleitoral, a eleição é um recall do administrador público.
Os adversários que precisam se deparar com os titulares da máquina pública insistem que o uso da estrutura administrativa define o cenário político. ;A disputa fica desigual, injusta. Qualquer um que detenha a máquina vai levar vantagem. Seja na hora de conseguir financiamentos de empresários, seja na hora de elaborar um programa de campanha, a estrutura e as possibilidades são muito desiguais;, diz o candidato do PT em Maceió, Judson Cabral, cujo oponente, o atual prefeito Cícero Almeida (PP), está perto de uma vitória no primeiro turno.
Mesmo quem não tenta se reeleger quer se manter dentro da estrutura de poder municipal, lançando um nome do mesmo grupo político e transformando-se em seu principal cabo eleitoral. A estratégia deve dar resultados. Das seis capitais onde o prefeito não é candidato, pelo menos em uma o atual gestor deve conseguir dar o mandato ao aliado já no primeiro turno e em outras três os apadrinhados devem, pelo menos, chegar ao segundo turno. Apenas duas candidaturas fogem à regra. No Rio, César Maia (DEM) não emplacou Solange Amaral. Em São Luís, Tadeu Palácio (PDT) não turbinou Clodomiro Paz.
Vantagem
Diante da liderança dos candidatos que já estão no cargo e dos afilhados, uma nova discussão surge paralelamente ao cenário de disputa municipal: o financiamento público de campanha. Para o candidato em São Luís, Flávio Dino (PCdoB), que briga para ir ao segundo turno com o nome apoiado pelo atual prefeito, mudar a forma de financiar as candidaturas é a melhor solução para equiparar candidatos em disputas eleitorais. ;Não há uma fórmula milagrosa. Mas alguma coisa deve ser feita para rediscutir o atual sistema de financiamento. Da forma como está, há muita vantagem para quem está no cargo;, opina o candidato.
;Antes, eu era contra o financiamento público, mas depois do que eu vivi nessa eleição, vi que a mudança é muito bem-vinda;, diz Luciano Castro (PR), na disputa pela Prefeitura de Boa Vista (RR) contra o atual prefeito Iradilson Sampaio (PSB), bem próximo da reeleição. Diante das inúmeras teses que tentam explicar a tendência do continuísmo, o senador Valter Pereira (PMDB-MS), que apóia Nelsinho Trad, tem mais uma. Para ele, o favoritismo dos atuais prefeitos em busca da reeleição representa o fim da oposição e dá uma amostra da falta de interesse dos políticos em entrar em uma briga difícil na qual os resultados não são imediatos.Pereira acredita que os políticos preferem compor a enfrentar o detentor da máquina administrativa. ;Todo mundo se alia e as disputas ficam sem opositores. Tudo culpa da possibilidade de reeleição;, argumenta.