Jornal Correio Braziliense

Politica

Moradores dos bairros mais violentos de Recife reclamam dos políticos

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A cinco minutos do centro de Recife, o bairro Coque é um exemplo do abondono do poder público e dos políticos. Com cerca de 16 mil habitantes, o bairro é um dos mais violentos da capital pernambucana, e os moradores convivem com sujeira e esgoto a céu aberto. A pouco mais de 48 horas das eleições, eles reclamam que nenhum dos sete candidatos à prefeitura esteve por lá. O bairro fica ao lado do imponente edifício-sede do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e faz parte que faz parte da Ilha de Joana Bezerra. O taxista Joseíldo Batista conta que não são poucos os assaltos a pessoas que saem do prédio da Corte. "Aqui falta quase tudo, e a segurança praticamente não existe", afirma. Moradora do bairro há mais de dez anos, a dona de casa Maria Souza Dantas disse já ter perdido a esperança de que os políticos dêem atenção ao local. "Todos eles prometem, dizem que vão melhorar as coisas e, depois, não fazem nada", conta. Ela aponta incoerência dos discursos: "Dizem que vão construir calçadão nas áreas nobres da cidade, mas a gente precisa de médico, hospitais", emenda Maria, afirmando que vai votar em branco. Ela conta que para ser atendida pela agente de saúde da comunidade é preciso ir à casa da médica. "Temos que ir lá buscar pelo braço." A doméstica Ana Paula Mendonça acredita que as pessoas associam os moradores do bairro ao histórico de violência da região e isso faz com que eles sejam discriminados no mercado de trabalho e até mesmo nos hospitais dos bairros próximos. "Se a gente diz que é daqui, não consegue emprego. Se vamos no hospital e preenchemos a ficha com o endereço do Coque, os atendentes dizem que lá a gente não pode ser atendido." A doméstica espera que o novo prefeito do Recife construa mais escolas e creches. "As crianças precisam estudar, e as mães não podem trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos." Um pouco mais distante do entro da capital, mas não menos carente, a Vila dos Milagres, com cerca de 4 mil moradores, é considerada a região mais perigosa do Recife. "É difícil passar um camburão por aqui", afirma o operador de carga Cláudio Maciel da Silva. "Os policiais têm medo de vir aqui. Quando a gente precisa de alguma coisa, temos que ir na delegacia e falar direto com o delegado. É ele quem decide se vale ou não subir o morro." Também morador da vila, localizada no bairro de Ibura, Josenildo Ferreira da Silva diz que as casas não têm água encanada, esgoto doméstico e nem luz elétrica. Ele sabe enumerar os problemas, mas se considera pouco "instruído" para falar de política. "Só tenho até a quarta série, mal sei escrever o nome. Por isso, não sei muito de política", diz, envergonhado, Josenildo, que recebe auxílio doença do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). "Nao escolhi meu candidato [a prefeito]. Vou perguntar para minha mulher que é um pouco mais informada. Eu sou da roça mesmo." Mesmo com todos os problemas, o ajudante de pedreiro João Emerson da Silva, 18 anos, só pede ao próximo prefeito que construa uma quadra de futebol na vila. "A gente joga bola aqui mesmo", diz, apontando para o chão de paralelepípedos mal colocados e em plena ladeira. "Se a gente tivesse uma quadra não ia machucar os dedos."