O casal Anthony e Rosinha Garotinho joga todas as suas fichas na eleição à prefeitura de Campos (RJ). Depois de oito anos governando o estado do Rio de Janeiro, seu poder político pode ser reduzido de forma dramática, se a ex-governadora, que concorre pelo PMDB, não vencer em sua própria terra natal. A análise é do cientista político Hamilton Garcia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF).
Segundo ele, embora o carisma pessoal de Anthony Garotinho lhe garanta mais alguns anos de vida pública, o capital político do casal ficará abalado se não conseguir vencer em Campos.
;A vitória em Campos é fundamental para Garotinho. Ele está em uma situação política delicada. Perdeu o poder econômico, que tinha com o governo do estado, e agora só conta com as forças do próprio partido;, disse Garcia.
Na última pesquisa Ibope, encomendada pela Rede InterTV, afiliada da Rede Globo, Rosinha aparecia com 37% das intenções de voto, tecnicamente empatada com o segundo colocado, Arnaldo Vianna (PDT), com 36%. Confirmado os resultados nas urnas, eles se enfrentariam em um segundo turno novamente em posição de empate técnico, segundo o Ibope, só invertendo a posição: Vianna teria 43% e Rosinha, 40%. A margem de erro da pesquisa é de 4%, para mais ou para menos.
Além do significado simbólico de uma vitória no município que o projetou para a vida pública nacional, o cientista político ressaltou outro interesse de Garotinho em conquistar a prefeitura: ;Campos arrecada por ano cerca de R$ 1,2 bilhão em impostos, principalmente com recursos do petróleo. É uma das maiores arrecadações de todo o país;, disse.
Apesar deste rio de dinheiro nos cofres municipais, Campos continua um município com altos índices de pobreza. Há inúmeras favelas na cidade, que tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,752, abaixo do índice brasileiro - de 0,800 - e bem inferior ao do estado do Rio, de 0,832.
;Somos igual a uma Arábia Saudita. Ricos em petróleo, mas com um povo pobre. Falta distribuir melhor essa riqueza;, ressaltou o contador João Batista Silva, professor universitário aposentado.
Muito dessa pobreza, segundo Silva, é resultado dos séculos em que a economia era dominada pelas usinas de cana-de-açúcar e a mão-de-obra formada essencialmente por bóias-frias, que trabalhavam nos canaviais.
Situação que está mudando, segundo ele: ;Hoje, ninguém mais quer trabalhar no corte da cana. Paga pouco e o trabalho é duro. É preciso importar mão-de-obra do Nordeste. Além disso, a tendência é trocar o facão pela colheita mecanizada, o que vai deixar muita gente desempregada;, disse Silva.
Os setores que mais estão contratando, atualmente, são as fábricas de tijolo e cerâmica e a construção civil, de acordo com Silva, um bisneto de escravos, que também cursou Direito e Administração.
;É uma eleição voltada para 2010, visando o pleito do governo do estado ou da Presidência da República. Apesar dos avanços, ainda vivemos a herança da aristocracia rural, com a mentalidade no coronelismo. Nos sentimos como massa de manobra, como joguetes, desses grupos políticos;, reclamou Silva.