A três dias das eleições, a candidata à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy (PT), apelou para um tom mais emotivo na televisão, numa tentativa de arrebanhar eleitores indecisos. No programa apresentando ontem na hora do almoço, ela encerrou dizendo que amava os eleitores. Na hora do jantar, na despedida do programa eleitoral, ela disse amar a cidade de São Paulo e mandou beijos como se fosse uma apresentadora de programa de auditório. Numa inserção que foi ao ar às 15h30, Marta pediu em tom choroso que os eleitores que optaram pelos demais candidatos mudem e votem nela. Uma cena comovente.
A mudança de tom na reta final na campanha da petista que lidera as pesquisas na maior cidade do país ocorre porque seu índice de rejeição ainda é muito alto, acima dos 30%, contra 27% do atual prefeito Gilberto Kassab (DEM) e 14% do candidato tucano Geraldo Alckmin. A pesquisa é do Ibope e foi realizada entre 23 e 25 de setembro. Foram entrevistados 1.204 eleitores. O levantamento foi registrado na 1; Zona Eleitoral de São Paulo, sob o número 031.001.08-SPPE.
O marqueteiro Jorge Sarubbo, que já atuou na equipe Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, acredita que o tom adotado na campanha da Marta condiz com a nova postura da petista, da mulher contida e sessentona. As pesquisas apontam que a candidata é muito rejeitada por mulheres. Ao perguntar o motivo numa pesquisa qualitativa, descobriu-se que Marta é malvista por ser uma senhora com mais de 60 anos, mas com atitude de uma mulher de 40. ;Esse tipo comportamento gera incômodo e causa rejeição porque provoca certo recalque na dona-de-casa que vive outra realidade;, analisa Sarubbo.
Sem decotes
Marta seguiu à risca as orientações da sua equipe de marqueteiros. Nos programas de televisão, abandonou os decotes e os cabelos modernos. Passou a adotar até uns óculos que dão um ar de mulher segura e inteligente, típica de uma mulher experiente de 63 anos. Ao falar nos programas eleitorais, a petista também recorreu a um tom ameno. ;A Marta ancorou o primeiro programa sobre sexo na televisão. Ela falava de orgasmo às 10h da manhã em plena década de 1980. Esse espírito de vanguarda ainda assusta os eleitores conservadores;, diz o cientista político César Camacho, da Universidade de Brasília (UnB).
Outro fantasma que ronda a petista é a separação do primeiro marido, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), ocorrida em 2001. Marta pediu a separação ao ter conhecido o ativista político nascido na Argentina, Luiz Favre, com quem está casada até hoje. ;Marta perdeu a eleição de 2004 para o Serra por causa da separação. O eleitorado feminino viu na figura de Eduardo Suplicy um homem apaixonado que trocado por outro. A rejeição a ela começou nesta época;, analisa Sarubbo.
Ontem, Marta afirmou que está tranqüila. Disse respeitar os demais candidatos e previu enfrentar um segundo turno difícil. ;Nós ainda não sabemos quem vai para o segundo turno até a abertura das urnas. Eu estou em posição consolidada desde o início e a gente não escolhe candidato para concorrer;, disse a candidata.