São Paulo ; Durante o debate promovido pela Rede Record, na noite desse domingo (28/09), discurso recheado de ataques de Geraldo Alckmin (PSDB) para tentar tirar votos do prefeito e candidato à reeleição Gilberto Kassab (DEM), seu principal adversário na reta final da campanha para o primeiro turno das eleições municipais. Nas entrevistas logo após o confronto, o foco central nos elevados índices de rejeição da candidata líder nas pesquisas até agora, a ex-ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT).
Foi por meio das duas estratégias que o ex-governador e candidato do PSDB à prefeitura da capital paulista, Geraldo Alckmin, tentou virar o jogo e voltar à vice-liderança do páreo a uma semana da decisão nas urnas. Ele deixou os estúdios da Record no final da noite do domingo confiante de que o eleitorado paulistano vai colocá-lo no segundo turno e dizendo ser o candidato mais bem preparado para impedir a vitória de Marta e do PT na maior cidade do país.
"Nós vamos estar no segundo turno e muito provavelmente a candidata adversária é a do PT, que nós já vencemos em São Paulo em 2002, 2004 e 2006. Tenho absoluta confiança de que, com tempo igual (no horário eleitoral gratuito), eu tenho a menor taxa de rejeição de todos os candidatos e, com melhor desempenho no segundo turno, nós vamos ganhar a eleição", afirmou Alckmin, destacando também que, nas eleições presidenciais de 2006, ele venceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Aliança com o DEM
O ex-governador evitou fazer comentários sobre a decisão da executiva nacional do PSDB, que já definiu a retomada da aliança com o DEM na capital caso o tucano não passe para a próxima fase. Questionado sobre ter achado ou não precipitado ou deselegante o anúncio feito ao longo do final de semana por dirigentes de seu próprio partido, Alckmin disse apenas: "Não vejo nenhum problema."
Em seguida, emendou: "Nós queremos no segundo turno o apoio de todos. Primeiro dos eleitores, que são absolutamente livres. E de todos os demais candidatos. Quem não for para o segundo turno certamente faz uma nova escolha, uma nova opção."
Com a declaração, Alckmin sinalizou que, caso ganhe a briga com Kassab para seguir na disputa, também vai querer o apoio dos democratas e dos partidos que estão reunidos em torno da tentativa de reeleição do atual prefeito, o que inclui o PMDB do ex-governador paulista, Orestes Quércia, com quem trocou acusações na última semana.
Alfinetadas e mais alfinetadas
Alckmin e Kassab dominaram os momentos mais quentes do debate promovido pela Rede Record entre oito dos 11 candidatos inscritos na corrida pela prefeitura da capital paulista. Durante as duas horas e meia do encontro, os dois também tentaram atingir a petista Marta Suplicy com críticas às propostas de campanha e aos resultados de sua gestão como prefeita da cidade, entre 2001 e 2004. Mas foi o confronto direto entre o tucano e o democrata que evidenciou as estratégias das duas campanhas para conseguir passar ao segundo turno no próximo domingo.
Kassab usou o nome do atual governador, José Serra (PSDB), logo em sua fala de apresentação no debate. Disse que foi eleito vice-prefeito no final de 2004 e que assumiu a prefeitura em 2006, quando o tucano renunciou ao cargo de prefeito para disputar e vencer as eleições para o governo estadual. O democrata destacou a parceria com Serra e afirmou ter cumprido à risca o programa de governo deixado por ele.
Atento a qualquer tentativa de confundir o eleitor, Alckmin não perdeu tempo. Ainda no primeiro bloco esclareceu os telespectadores sobre o fato de o candidato do PSDB ser ele, já que Kassab representa o DEM, antigo PFL. O ex-governador insistiu no histórico tucano no estado, recorreu várias vezes ao nome do ex-governador Mário Covas, que morreu em 2001 e era seu padrinho político, mas, pela primeira vez, pouco mencionou o nome de Serra. O governador paulista apóia Alckmin por compromisso partidário, mas, antes da convenção do PSDB, era favorável à reeleição de Kassab e, ao menos no primeiro turno, manteve-se afastado da linha de frente do páreo na capital paulista.
As primeiras farpas deram o tom do confronto que se estenderia por todo o debate. Alckmin bateu na tecla do passado político de Kassab. Lembrou que ele foi secretário de Planejamento do ex-prefeito Celso Pitta (1996-2000), cuja gestão foi marcada por denúncias de corrupção, e a exemplo do que fez nos últimos dias, atacou a aliança feita agora por Kassab com o ex-governador e presidente estadual do PMDB, Orestes Quércia, a quem acusou de "quebrar as finanças" do estado.
Bate e rebate
Kassab reagiu. Afirmou que o tucano mudara seu discurso recentemente e que, nos últimos dias, depois de ter "caído nas pesquisas, estava "irreconhecível". O democrata disparou também: "Ele (Alckmin) escolheu o vice de Serra e me aplaudiu. Me convidou para participar de seu governo e compor seu governo. Chegou a me convidar para ser candidato a governador (em 2010) apoiado por ele."
Foi a vez de o ex-governador tucano rebater ao vivo e repetir depois, já na fase de entrevistas à saída do estúdio: "Conversar, converso com todo mundo. Agora como é que pode eu convidar alguém para ser candidato a governador em 2010, que nem do meu partido é? Não tem o menor sentido", afirmou aos jornalistas, desmentindo mais uma vez o candidato democrata.
Os dois adversários também partiram para a troca de acusações quando o assunto foi gestão pública. Usando números levantados por sua equipe de campanha, Alckmin classificou como "vergonhoso" o fato de existirem na cidade "158 mil crianças fora das creches e Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis)". Em resposta, Kassab atacou: "Você está mal informado, são 80 mil crianças. Na gestão da Marta não havia centralização de matrículas e este número aumentou. Na nossa gestão criamos 50 mil vagas e temos compromisso de zerar o déficit na próxima gestão."
Visivelmente tenso, o democrata prosseguiu: "Quando ele (Alckmin) fala, até parece que não teve responsabilidade na vida pública antes. Afinal, ele poderia ter ajudado a prefeitura enquanto era governador do estado, como faz o José Serra." E, então, foi a vez de o tucano devolver. "O governo do PSDB já é aprovado pela população paulista há 16 anos. A Constituição é clara, criança de 0 a 5 anos é responsabilidade da Prefeitura", afirmou Alckmin.
Hoje Serra é poderoso
Se no início da campanha ambos evitavam ataques mútuos, atentos à necessidade de evitar incoerências no discurso e à possibilidade de retomada da aliança partidária em segundo turno, no debate da Record tanto Alckmin quanto Kassab mostraram que vale quase tudo na tentativa de conquistar ou manter o comando da prefeitura.
"Larguei o Pitta e hoje ele (Alckmin) está com o Pitta", alfinetou Kassab, lembrando que Pitta é filiado ao PTB, partido da coligação de apoio ao candidato tucano. O ex-governador não passou recibo e, de quebra, ainda mandou um recado sobre Serra, a quem chamou de "poderoso":
"Tentar me ligar ao Pitta é piada. Quem apoiou Pitta foi Kassab. Hoje é fácil ser amigo do Serra, ele é poderoso, governador. Mas fui eu quem apoiei o Serra em 1996, e ele foi derrotado. Kassab e sua vice (Alda Marcoantônio, do PMDB), inclusive, a chapa toda apoiou Pitta."