Jornal Correio Braziliense

Politica

Eleições municipais: Disputa local, estratégia nacional

Apesar do caráter localizado da corrida do próximo domingo, partidos fazem as contas para saber quem vai sair do pleito com saldo político para 2010. PT aposta em avanço numérico. A oposição, em vitórias simbólicas

Poucas frases foram tão repetidas nos últimos dias quanto a máxima de que "as eleições são municipais e não podem ser nacionalizadas". Quando algo é dito com muita ênfase em tempos de campanha eleitoral, é bom desconfiar. Nesse caso, não é diferente. Por mais que os grandes partidos neguem, todos têm estratégias e expectativas nacionais. Querem garantir boas posições para firmar sua base nas eleições de 2010. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa um lugar central nessa disputa e quer fazer das eleições municipais um momento de afirmação política do seu governo. A oposição prevê um crescimento dos partidos governistas, mas tenta impor derrotas a Lula em cidades estratégicas. O presidente gravou mensagens individuais para quase 100 candidatos a prefeito. Nas demais cidades, o PT disponibiliza um vídeo com um apelo em tom generalista para que os eleitores escolham um prefeito alinhado com o governo federal. O partido quer sair desta eleição como a segunda legenda com mais prefeituras. A principal aposta é retomar a prefeitura de São Paulo. Segundo as pesquisas mais recentes, a ex-ministra Marta Suplicy deve passar para o segundo turno como a candidata mais votada. Mas todas as simulações apontam para uma disputa difícil na etapa decisiva da campanha, quer o adversário seja o prefeito Gilberto Kassab (DEM) ou o ex-governador Geraldo Alckmin. Para vencer, o PT aposta na participação ainda mais ativa de Lula na campanha e também em cercar São Paulo com vitórias em primeiro turno nas cidades mais próximas, especialmente na região do ABC. Bem posicionados nas disputas de capitais como Recife e Fortaleza, onde há chances de vitória já no próximo domingo, os petistas ainda brigam por um lugar no segundo turno em Porto Alegre e Salvador. São duas cidades fundamentais. A capital gaúcha foi governada pelo partido por 16 anos e é uma espécie de vitrine da legenda. E em Salvador a luta é contra o deputado ACM Neto, uma das estrelas do DEM. DEM e PSDB Os líderes do DEM e PSDB não reconhecem publicamente, mas trabalham com a perspectiva de perder espaço nas pequenas cidades. Temem os efeitos dos programas sociais do governo e da máquina federal, há seis anos nas mãos de Lula e seus aliados. A principal preocupação é que a campanha passe a imagem de que o presidente é um cabo eleitoral imbatível. Hoje, Lula tem altos índices de popularidade, mas os nomes do PT ainda não decolaram. Por isso, a oposição aposta em vencer o PT em capitais de grande visibilidade. É o caso de Salvador e especialmente de São Paulo. Na capital paulista, entretanto, será preciso superar a divisão interna. Kassab e Alckmin trocaram ataques num tom cada vez mais duro nos últimos dias, à medida que ficou claro que eles disputam um lugar no segundo turno. A briga é especialmente dura no PSDB. O governador José Serra, um dos possíveis candidatos do partido à Presidência da República em 2010, fez uma aposta arriscada e bancou a candidatura de Kassab, contra a vontade de parte dos tucanos. Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves (PSDB) também desafiou aliados e adversários ao fechar um acordo com o PT em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB) à Prefeitura de Belo Horizonte. No caso dele, o risco diminuiu muito com o andamento da campanha. Lacerda lidera, com chances de vencer em primeiro turno. Alheio à disputa entre governo e oposição, o PMDB quer manter sua posição de legenda com mais prefeituras no país. É exatamente essa estrutura que dá ao partido a condição privilegiada de transitar entre os dois pólos, aliando-se tanto a Lula e ao PT quanto às legendas oposicionistas.