A constatação de que o recesso branco deixou o Congresso Nacional às moscas é uma injustiça com um grupo de parlamentares ; bem pequeno, é verdade ; que nunca esteve tão presente e atuante. Às vésperas da eleição, época em que os congressistas se voltam para as campanhas em suas cidades, os deputados e senadores de Brasília, que não participam diretamente do pleito municipal, fazem um movimento contrário ao observado no recesso branco.
Com um detalhe que os agiganta nesse período. Sem quase ninguém nas duas Casas, os políticos da capital são alçados a cargos de liderança, cumprem missões oficiais em nome das presidências das instituições e tornam-se requisitadíssimos para programas de debate e entrevistas oficiais. Resultado: ganham visibilidade incomum em outras épocas do ano.
O deputado Rodrigo Rollemberg (PSB) teve oportunidade rara neste mês. Contabilizou 17 inserções na Voz do Brasil (programa de rádio oficial que vai ao ar todos os dias, entre as 19h e as 20h), participou de dois debates na TV Câmara, foi citado em três matérias da agência oficial e em outras duas no jornal institucional. Para tanto, tem mantido rotina de fazer discursos no plenário da Câmara, mesmo quando o lugar está praticamente vazio. Na última quinta-feira, Rollemberg subiu à tribuna para manifestar indignação com as denúncias de pedofilia na Rodoviária do Plano Piloto, divulgadas pelo Correio. Foi ouvido por apenas um deputado, José Edmar (DEM), que também integra a bancada do DF, e pelas taquígrafas que registram os discursos.
Jofran Frejat (PR) notou que, no último mês, esteve bem mais solicitado do que de costume. Foi convidado para participar de debates na TV Câmara ; momento em que trocou idéias com outro parlamentar da bancada do DF, Geraldo Magela (PT) ; e representou a Casa em missões oficiais. Entre elas, a de ciceronear a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, o primeiro-ministro da Indonésia e uma comitiva de autoridades da África. Frejat era um dos poucos que estava no Congresso na ocasião das visitas. ;Na ausência de muitos deputados, acabam solicitando a gente de Brasília mais vezes, eu acho bom demais;, comemora Frejat.
Liderança
Em casos como o de Tadeu Filippelli (PMDB), a responsabilidade em setembro cresceu oficialmente. É que o deputado é vice-líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Na ausência do líder Henrique Eduardo Alves (RN), quem assumiu a vaga de articulador foi Filippelli. E ele alega que trabalhou bastante nessa fase. ;Precisei de despachar com o ministro Múcio (José Múcio Monteiro, das Relações Institucionais), o Reinhold Stephanes (da Agricultura) e com o Nelson Machado (secretário-executivo do Ministério da Fazenda);, relata o líder interino.
Senador pela bancada do DF, Gim Argello (PTB) também anda posando de líder no Congresso. No último mês, ele representou o governo federal no Senado. O titular da vaga, Romero Jucá (PMDB) anda bastante empenhado em eleger afilhados políticos em 15 cidades de Roraima. Só deve voltar para Brasília no dia 7, após as eleições. Uma das vezes em que Gim precisou agir como líder foi para negociar a aprovação de um projeto de lei de autoria do Executivo, que permite compras sem licitação por soldados em missão de paz no exterior. ;Recebi um telefonema do ministro Nelson Jobim (da Justiça) me pedindo pressa na aprovação dessa matéria, aí eu entrei em campo;, diz o senador.
Durante a fase do recesso, Gim e os colegas de bancada Adelmir Santanta (DEM) e Cristovam Buarque (PDT) já garantiram o quorum em várias sessões. ;Estou sempre por perto e quando é preciso corro para o plenário para assegurar a abertura dos trabalhos;, disse Adelmir. O senador aproveita o período de calmaria para falar à vontade na tribuna, já que quando a Casa está cheia, muitas vezes, as lideranças ocupam a maior parte do tempo. E quanto ao fato de falar para cadeiras, paredes e o vazio, ele avalia: ;Não tem problema nenhum, porque a gente não fala para os nossos pares, mas fala para a população porque os discursos ficam registrados e são divulgados pela rádio e televisão. Isso é o que importa;.