Jornal Correio Braziliense

Politica

Candidatos sofrem com seqüelas da Operação João de Barro

Candidatos à reeleição nos municípios investigados pela Polícia Federal durante a Operação João de Barro convivem com o peso de tentar desfazer o estrago na imagem a poucos dias da votação

A 10 dias da eleição municipal, 99 candidatos à reeleição correm contra o tempo para derrotar um mesmo inimigo: os fantasmas da Operação João de Barro, realizada pela Polícia Federal em 20 de junho passado. São prefeitos e vice-prefeitos alvos da ação policial que precisam, a todo instante, rebater ataques dos adversários para não perderem a disputa. A investigação da PF levanta suspeitas sobre a participação deles num esquema para desviar recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Ao todo, 119 municípios integram a apuração da polícia. Apenas 20 prefeitos ou vice dessas cidades estão fora da eleição de 5 de outubro. E o restante, 83% do total, tenta se desvencilhar do estrago causado pela ação da polícia. Em Japaraíba, município distante 236km de Belo Horizonte, por exemplo, o prefeito José Antonio de Miranda (DEM) admite o incômodo com a campanha negativa dos adversários em cima da Operação João de Barro. ;Eles comentam esse assunto 24 horas por dia;, disse. Seus advogados entraram com um pedido na Polícia Federal para tentar conseguir uma certidão que o isente das acusações. Mas, por enquanto, não há sinal do documento. A polícia também buscou provas na Prefeitura de Cachoeiro do Itapemerim, no Espírito Santo. Segundo a investigação, o lobista João Carlos de Carvalho, que seria o mentor do esquema, atuou na liberação de obras na cidade. Três meses depois, os adversários do prefeito, Roberto Valadão (PMDB), exploram o episódio. Candidato à reeleição, ele amargou um terceiro lugar, com apenas 7,2%, na pesquisa do Instituto Futura, registrada com o número 1.659 na Justiça Eleitoral. Seus aliados o defendem. ;Nós estamos com dificuldade. Houve uma tentativa de explorar essa história, mas nós esclarecemos, não há nada provado aqui;, afirmou Getúlio Santos, presidente do PMDB de Cachoeiro. Única capital investigada pela PF, Palmas assiste a uma disputa em que o prefeito, Raul Filho (PT), precisa se explicar diariamente das acusações feitas por seu adversários sobre as irregularidades em obras ligadas ao PAC. Em 31 de agosto, o Correio chegou a revelar que Raul teria recebido um aparelho de ginástica de R$ 9 mil para favorecer um consórcio de empreiteiras. As pesquisas mostram o petista na frente, mas com uma diferença apertada em relação aos adversários. Desvios O prefeito de Vespasiano, Ademar José (PSDB), encontra dificuldades para ser reeleito na cidade mineira. Ele ;culpa; as operações da PF pela desvantagem, especialmente no início da campanha. Segundo o tucano, as ações policiais foram um prato cheio para os adversários. Ademar chegou a ser preso na Operação Pasárgada em abril passado, que desmontou um esquema de desvios do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Na João de Barro, a PF recolheu documentos na prefeitura comandada por ele. ;Provocaram um desgaste na minha imagem, né?;, reclamou o prefeito. Já em Governador Valadares (MG), o prefeito José Bonifácio Mourão (PSDB) optou por outro caminho. Para se defender nesta campanha, Mourão pediu licença do cargo. Segundo a polícia, o lobista João Carlos de Carvalho também agiu na cidade, influenciando na negociação para favorecer empreiteiras na prefeitura. ;No começo da campanha, o principal adversário passava mensagens distorcidas, mas o município entrou com uma ação na Justiça;, alegou Alexandre Iumes Godinho Araújo, um dos advogados da campanha do prefeito.