Última entrevistada do ciclo de sabatinas que a Folha realizou com os principais candidatos a prefeito de São Paulo, a petista Marta Suplicy criticou a gestão atual --comandada por Gilberto Kassab (DEM)-- e alfinetou o governador tucano José Serra, a quem acusou de fazer "politicagem". Durante a sabatina, Marta também ressaltou sua parceria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas afirmou que seu maior ídolo é a cantora Madonna.
"Não é só a popularidade do presidente. É o que o presidente quer para o Brasil, e as pessoas percebem esta afinidade", disse. "É uma afinidade de propostas muito grande. Muitas propostas do governo federal começaram aqui na minha gestão", afirmou a petista, ao ser questionada sobre o peso do apoio de Lula nestas eleições.
Para a candidata petista, que desde o início das eleições tem colado sua imagem à do presidente, Lula tem sido muito "republicano" com a cidade de São Paulo. "O presidente [Lula] está sendo muito republicano. São Paulo teve muito mais recurso com o Lula que com o FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB]", disse, alfinetando os tucanos.
Tucanos
Apesar de focar suas críticas no adversário do DEM, a candidata não poupou o partido de Geraldo Alckmin (PSDB), voltando suas alfinetadas especialmente ao governador Serra.
"Não sei se ele é bom ou não [gestor público]. Porque da prefeitura ele saiu. Agora eu estou esperando", disse, ao ser questionada sobre qual sua avaliação do governo do Estado.
A petista também contestou as declarações do governador tucano, que afirmou ter encontrado a prefeitura endividada em 2005. "Ele adora falar isso. Isso é parcial, porque não corresponde com a realidade. É politicagem pura. Ele fez um trabalho político de uma candidata que perdeu a eleição com aprovação, então ele queria acabar com isso", afirmou.
Marta também cutucou Alckmin, ao afirmar que o procurou para que investissem em parceria no metrô --ela como prefeita, ele como governador-- mas disse que, à época, ele "não tinha projeto". "Não teve o investimento adequado [no metrô] em 14 anos de governo tucano", afirmou.
Ataques
Mesmo com as farpas ao adversário do PSDB, Marta focou suas críticas à gestão atual, evidenciando a intenção de polarizar a disputa com Kassab. Segundo a candidata, a cidade teve um "retrocesso" na administração atual, e fez críticas à gestão nas áreas de transporte e educação. Segundo a ex-prefeita, Kassab poderia ter investido em metrô desde 2006. "Eles estão com superávit de R$ 2 bilhões desde 2006. Por que não investiram antes?", questionou Marta, que disse ainda que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) está "sucateada, sem equipamento e marronzinho na rua".
Para a petista, os "demos-tucanos" só deram continuidade aos CEUs (Centros Educacionais Unificados) devido à pressão popular. "Quero lembrar que os demos-tucanos foram contra [a construção dos CEUs]. Podiam ter feito os CEUS no dia seguinte, deixamos 24 terrenos comprados e eles estão entregando apenas 13", afirmou.
Marta acusou Kassab de "copiar" suas idéias, usando como exemplo a proposta de implantar cursos técnicos noturnos nos CEUs. "Kassab vetou o projeto do vereador José Américo [PT] de qualificação técnica nos CEUs e agora fala que vai fazer", disse.
Polêmica
Kassab também foi o centro da avaliação de Marta sobre as declarações da adversária Soninha Francine (PPS), sobre a suposta troca de favores para votações na Câmara Municipal. Recentemente, a candidata do PPS afirmou que, na Câmara, há troca de favores para a aprovação de projetos.
"A Soninha é vereadora da gestão do Kassab. Então quem tem que responder é o Kassab", disse a ex-prefeita. "Na minha administração não acredito que os vereadores fizessem esse tipo de coisa", completou. Segundo a candidata, a declaração de Soninha afeta diretamente a gestão do adversário do DEM, já que a ex-VJ é vereadora em sua gestão. "Se alguém ta fazendo corrupção, alguém ta corrompendo. A administração do Kassab foi acusada no que ela falou", afirmou Marta.
Alianças
Questionada sobre os apoios que espera receber em um eventual segundo turno, Marta disse que""aceitaria o apoio de todo mundo", e que espera receber de Alckmin ou de Kassab. "Os eleitores de todos esses partidos são vitais para ganhar o segundo turno", disse. Para a candidata, parte do seu alto índice de rejeição --apontado nas pesquisas de intenção de voto-- está relacionada ao partido. "Isso [a rejeição] tem a ver, em parte, com o partido", disse antes de afirmar que ao compararem as propostas, os eleitores vão optar por sua candidatura.
Marta também comentou a relação do tucano e do democrata, que ficou tensa depois que Alckmin acusou Kassab e o DEM de golpistas. "A relação dos dois está muito deteriorada e espero ter o apoio no segundo turno de quem não for para o segundo turno", afirmou.
Carrega na catraca
Questionada sobre qual seria sua primeira ação como prefeita, caso seja eleita, a petista brincou com sua própria música sobre o Bilhete Único, arrancando gargalhadas da platéia. "Vou ´carregar na catraca! Carregar na catraca! Carregar na catraca´", cantou a petista. Para a candidata, Kassab cometeu uma "perversidade" ao "impedir" que os usuários carreguem o Bilhete Único na catraca do ônibus. 2010.
A candidata também negou que tenha intenção de se candidatar ao governo estadual em 2010. "Quero ficar oito anos", afirmou. E disse que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) deve ser candidata à sucessão presidencial. "Ela está muito preparada", afirmou. Segundo Marta, o desejo de ser presidente do Brasil continua sendo um sonho. "Esse sonho eu acho que a pessoa, o político, nunca pode jogar fora. Mesmo que seja só um sonho", afirmou, ao final da entrevista.
Questionada sobre seu maior ídolo, a candidata surpreendeu ao responder Madonna, dando fim à sabatina da Folha. Durante duas horas, Marta foi entrevistada pelos colunistas da Folha Mônica Bergamo e Gilberto Dimenstein, e pelos jornalistas Nilson Camargo (editor responsável do jornal "Agora"), e Rogério Gentile (editor de Cotidiano). A platéia também participou, enviando perguntas por escrito.
Na semana passada, a Folha entrevistou os candidatos Paulo Maluf (PP) e Gilberto Kassab (DEM). Ontem, foi a vez do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Todas as sabatinas acontecem no Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, 2° piso, São Paulo).