Num jantar reservado à cúpula do partido, o PMDB decidiu na noite de segunda-feira que a prioridade a partir de outubro será a eleição de Michel Temer à presidência da Câmara em fevereiro de 2009. Os senadores presentes à reunião, no entanto, deram um recado indigesto ao deputado: a bancada do Senado não cederá fácil a Presidência da Casa ao petista Tião Viana (AC). Essa é a moeda de troca que o PT coloca em jogo para apoiar Temer na Câmara.
Os caciques peemedebistas vieram a Brasília na noite de segunda apenas para discutir o assunto, deixando a cidade no dia seguinte. Querem lançar a candidatura de Temer, que hoje preside o PMDB, logo após o primeiro turno das eleições municipais, marcado para 5 de outubro. É uma estratégia para barrar o avanço de Ciro Nogueira (PP-PI), o candidato do baixo clero que ameaça as pretensões do PMDB.
O jantar ocorreu na casa de Temer e contou com a presença de lideranças da legenda no Congresso, entre elas o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR). Eles assumiram a missão de manifestar apoio à candidatura do deputado ao comando da Câmara, mas ressaltaram a dificuldade em convencer a bancada do PMDB em ceder a Presidência do Senado ao PT.
Dono do maior número de cadeira nas duas Casas, o PMDB tem o direito, regimental e por tradição, de indicar os respectivos presidentes. O PT é a segunda maior bancada na Câmara e a quarta no Senado. Os peemedebistas precisam dos votos petistas para eleger Temer, mas relutam em apoiar Tião Viana no Senado.
O comando das duas Casas é estratégico para qualquer partido a partir de 2009. Caberá aos presidentes de Câmara e Senado conduzir o Congresso nos dois últimos anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, influenciando, inclusive, na sua sucessão.
Oposição reage
Ciente da pressão do PT, a oposição tem incitado o PMDB a não topar o acordo para emplacar o petista. PSDB e DEM já avisaram que aceitam votar em qualquer nome indicado pelo partido. Caso contrário, ameaçam lançar algum candidato para brigar com Viana.
No jantar de segunda-feira, o PMDB não definiu como esse impasse será resolvido. O objetivo agora é encontrar uma solução que garanta a vitória de Temer dentro de um contexto que agrade aos senadores do PMDB. Um desafio foi colocado à mesa do jantar.
Preocupados, os peemedebistas cobram do PT a desvinculação da eleição da Câmara da disputa do Senado. Temer carrega debaixo do braço um acordo assinado pelos petistas em que a legenda se comprometeu a apoiar um candidato do PMDB em 2009 na Câmara em troca da vitória de Arlindo Chinaglia em fevereiro do ano passado. Chinaglia venceu, e agora o PMDB cobra a reciprocidade.
O PT, entretanto, incluiu a Presidência do Senado no jogo e embolou a negociação. Tião Viana está em plena campanha. Nos últimos dias, conversou com Renan Calheiros e José Sarney (PMDB-AP), líderes da tropa de choque do PMDB no Senado e considerados obstáculos à pretensão do petista. Renan, aliás, tem sido pressionado a assumir a liderança do partido na Casa caso Viana seja eleito em 2009. Seria uma forma de mostrar força nesse jogo político.
Futuro
Na reunião de segunda-feira, o partido discutiu, por exemplo, a possibilidade de a bancada do Senado, alinhada a Sarney, assumir a presidência do PMDB em 2009, num eventual afastamento de Temer do cargo caso vença as eleições na Câmara. Seria uma forma de garantir a essa ala do partido a chance de indicar o candidato a vice na chapa com o PT para a sucessão de Lula.
Por enquanto, porém, essa discussão ficou para depois. Um acordo a longo prazo não agrada aos senadores do PMDB. Não haveria garantias de que receberiam esse poder em mãos. O que eles querem é uma recompensa imediata e poderosa politicamente para entregar ao PT a Presidência do Senado.