Em fase de inferno astral prolongado, nem mesmo um jipe de campanha consegue fazer sua parte e passar despercebido. Durante carreata na tarde desta quarta-feira (17/09) no distrito de Cidade Dutra, na zona sul da capital paulista, o ex-governador e candidato do PSDB à prefeitura, Geraldo Alckmin, foi surpreendido por um problema mecânico no jipe em que estava, acompanhado de um motorista, de sua filha, Sophia, e do deputado federal Júlio Semeghini, coordenador de mobilização da campanha.
Quando já havia passado pela avenida Teotônio Vilela e percorria um trecho da avenida Interlagos, o carro simplesmente afogou em plena carreata. O ex-governador e o deputado desceram e, por alguns instantes, tentaram empurrar o jipe para fazê-lo pegar. Rapidamente, assessores acomodaram o bem disposto candidato tucano em outro veículo e a atividade de campanha prosseguiu normalmente como havia sido programada.
Alckmin, que arregaçou as mangas de sua camisa e se prontificou a empurrar o jipe, enfrentou com bom-humor o episódio. "Vamos arrumar um jipe com um carburador que funcione melhor", brincou o ex-governador paulista, que administra há meses o racha interno do PSDB na cidade, a falta de apoio da bancada de vereadores da legenda no legislativo municipal à sua candidatura e, ao mesmo tempo, faz uma campanha modesta em recursos diante do poderio da máquina pública municipal, hoje nas mãos de seu principal adversário no primeiro turno, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição.
Kassab foi eleito vice-prefeito no final de 2004, na chapa então liderada pelo atual governador paulista, José Serra (PSDB). Para concorrer às eleições de 2006, Serra renunciou ao cargo de prefeito, fazendo de Kassab seu sucessor. O prefeito democrata manteve no governo todo o time de funcionários de primeiro, segundo, terceiro e quarto escalões ligados ao PSDB, já de olho na manutenção da aliança entre tucanos e democratas nas eleições deste ano.
No entanto, o PSDB optou em convenção pela chapa própria, com Alckmin candidato. A aliança foi desfeita, mas os tucanos que defendiam a tentativa de reeleição de Kassab não apenas não se integraram à campanha do partido como também passaram, nas últimas semanas, a trabalhar abertamente em favor da candidatura do prefeito democrata.
Alckmin trocou seu marketeiro de campanha e passou a trabalhar de maneira mais intensiva e agressiva nas ruas e durante o programa eleitoral gratuito. Agora, critica Kassab e expõe falhas de seu governo, sem, no entanto, atingir diretamente o período em que Serra era o prefeito da cidade. O apoio do atual governador é disputado por Alckmin e por Kassab igualmente. Por compromisso partidário, Serra apóia o colega tucano, mas até agora não foi para as ruas pedir votos para Alckmin, nem impediu que o democrata continue usando seu nome na tentativa de reeleger-se.
No comando tucano, a ordem é enfrentar a crise interna e mostrar a verdade da candidatura. "Dizer quem é quem, esclarecer a confusão na cabeça das pessoas. Mostrar que Serra apóia Alckmin na televisão. Reforçar aos eleitores que Kassab é do DEM e dizer com todas as letras que partido é o DEM. Geraldo é bom demais, o paulistano sabe disso e é muito fiel. Chega de tentar ser educado, de evitar críticas. Isso é uma campanha. Somos, neste momento, PSDB contra DEM. Engana-se quem pensar que Geraldo não estará no segundo turno. Quem apostar nisso, perde", afirma, convicto, um parlamentar da bancada tucana na Assembléia Legislativa de São Paulo.
As pesquisas mais recentes indicam que, na corrida eleitoral paulistana, a candidata petista, ex-ministra do Turismo, Marta Suplicy, mantém a liderança na preferência das intenções de voto. Kassab e Alckmin disputam o segundo lugar nas pesquisas, sendo que, segundo analistas, até o ultimo final de semana a campanha do prefeito mantinha tendência de crescimento, enquanto que a do candidato tucano registrava ligeira queda.