A urna eletrônica foi adotada nas eleições brasileiras há 12 anos, mas ainda há eleitores que enfrentam dificuldades para utilizar o aparelho. Seja pelo pouco contato com a informática, seja pela inexperiência política, muitos não sabem como confirmar o voto para vereador e prefeito. Foi pensando nisso que a juíza eleitoral de Abadiânia, Rosângela Rodrigues dos Santos, instalou algumas urnas para fazer simulações na cidade, distante 120km de Brasília. Para ela, muitos acabam votando nulo porque erram os números de seu candidato. ;A pessoa não localiza o número no teclado, e muitas vezes ela digita errado e confirma;, acredita.
O lavrador Sebastião Silvério da Silva, 62 anos, já sabe em quem vai votar ; e tentou sem sucesso digitar o número de seus escolhidos. A urna, no entanto, estava programada para receber somente os votos de candidatos e números inexistentes. ;A gente pode pôr a cola no bolso, mas eu não preciso;, afirma com orgulho. Segundo Guilherme Venceslau, técnico de urna na cidade, uma das maiores dificuldades dos eleitores é corrigir o número, caso tenha digitado de forma incorreta. ;As pessoas não sabem corrigir. Elas digitam errado e votam errado;, afirmou Venceslau, que explica, durante a simulação, a função das teclas verde e laranja.
Para o oficial de Justiça Eleitoral Francisco Yuri Borges, apesar da inexperiência, os eleitores jovens não enfrentam muitos problemas. ;Ele está acostumado a mexer com números, tem celular, computador. Por mais que não tenha estudado, sabe usar a urna.; A juíza de Abadiânia tem opinião semelhante: ;O brasileiro normalmente sofre da falta de informação e da falta de vontade para aprender. E tem até mesmo uma certa rejeição ao novo, principalmente as pessoas mais velhas. Os jovens ainda têm acesso maior à informática;.
A Justiça Eleitoral já realizou cinco simulados em Abadiânia e pretende orientar mais eleitores até o dia da votação. Além da urna para simulação, os eleitores encontram orientação de como usar o aparelho nos sites do Tribunal Superior Eleitoral e dos tribunais regionais. ;A justiça tem função igualitária. Ela deve deixar todos os eleitores com o mesmo acesso à informação;, resume a juíza eleitoral da cidade. Primeiro na lista fictícia de candidatos, Ary Barroso foi o favorito entre os cerca de 100 eleitores que treinaram o voto em Planaltina, também distrito de Abadiânia. Elis Regina, por sua vez, no topo dos candidatos à prefeito, foi a mais votada.
Adoção em 1996
A urna eletrônica foi adotada no Brasil em 1996, mas somente quatro anos depois foi difundida em todo o território. Desde então, o processo foi aprimorado para acelerar a contagem dos votos e garantir maior transparência. Ao todo, seis eleições ocorreram com o auxílio do aparelho, além do referendo sobre proibição do uso de armas, em 2005.
Este ano, em três cidades do país, o eleitor será identificado não mais pelo título, mas pela impressão digital. O projeto foi implantado em Colorado do Oeste (RO), Fátima do Sul (MS) e São João Batista (SC). A escolha das cidades teve como base o número reduzido de eleitores e a proximidade com as respectivas capitais.
A urna biométrica ; chamada assim por identificar o eleitor a partir de dados biológicos, como a impressão digital ou a íris ; tem previsão de ser implantada em todo o território brasileiro em até 10 anos. Será uma realidade bem diferente daquela que a juíza eleitoral Rosângela Rodrigues dos Santos encontrou há oito anos.
;Foi a primeira vez em que o pessoal do interior estava votando em urna eletrônica;, ressalta. Na época, ela levou a urna eletrônica, de canoa, até uma das comunidades dos calungas, remanescentes de escravos que vivem no nordeste goiano. Sem acesso por estradas, essa foi a única solução encontrada pela juíza para explicar o voto eletrônico aos moradores.