O ministro Nelson Jobim (Defesa) confirmou nesta segunda-feira (15/09) que vai comparecer à CPI das Escutas Clandestinas da Câmara nesta semana para explicar detalhes da compra de maletas pelo Exército, em conjunto com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que teriam capacidade de realizar grampos telefônicos.
A audiência com Jobim está marcada para quarta-feira e a expectativa é que o depoimento do ministro ocorra em sessão reservada, a pedido próprio Jobim.
Por meio de assessores, Jobim disse que irá se manifestar sobre as maletas e a suposta participação de militares na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, somente no depoimento à CPI. Reportagem publicada pela revista "Época" afirma que oficiais da ativa do serviço de inteligência e autoridades das Forças Armadas ajudaram nas investigações da Operação Satiagraha, além de agentes da Abin.
De acordo com a reportagem, o apoio extra foi obtido pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que comandou a operação, e incluiu o próprio comandante do Exército, general Enzo Peri. O general ajudou o delegado, diz o texto, a conseguir informações sobre um oficial formado no Instituto Militar de Engenharia que foi trabalhar no grupo Opportunity, de Daniel Dantas, alvo central das investigações.
O Exército também vai instaurar inquérito policial militar para apurar denúncia do jornal "O Globo" de que investigadores das Forças Armadas vêm realizando escutas telefônicas sem o controle de procuradores militares. Segundo o jornal, dados encaminhados à CPI dos Grampos mostram que a Justiça Militar da União autorizou 234 pedidos de grampos entre janeiro de 2007 e março, enquanto ofício assinado por Jobim afirma que nesse período só foram realizadas sete interceptações legais.
O Ministério da Defesa vai refazer o levantamento em cada órgão militar sobre os pedidos de autorização para escutas telefônicas e as autorizações efetivamente concedidas. Assessores do Ministério da Defesa argumentam que pode ter havido casos de autorizações concedidas sem que os grampos tenham sido executados, ou mesmo autorizações similares para a mesma escuta.
Adiamento O depoimento de Jobim à CPI das Escutas Clandestinas estava marcado para a semana passada, mas o ministro adiou sua ida à comissão com o argumento de que precisava acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem a Coari (AM).
Jobim, porém, acabou não participando da viagem devido a uma crise alérgica. Nos bastidores, parlamentares avaliam que a estratégia do Palácio do Planalto foi tirar o ministro do foco da CPI em meio à dupla versão sobre as maletas apresentadas por Jobim e pelo ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Jorge Félix. Enquanto Jobim disse que os equipamentos têm capacidade de realizar escutas telefônicas, Félix negou que as máquinas tenham essa função.