Em seu blog na internet, o delegado Protógenes Queiroz critica a possibilidade de anulação das provas reunidas no inquérito da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, contra o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. O delegado afirma, em um comentário incluído neste domingo (04/09), que o país vive uma era de "escândalos fabricados" com o objetivo de se reunir "provas contra bandidos".
O desabafo de Protógenes ocorre em meio à possibilidade de anulação das provas obtidas por agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na Operação Satiagraha. Como a PF utilizou 52 agentes da Abin durante as investigações, advogados criminalistas sustentam que as provas são suscetíveis de anulação porque a Abin não tem competência para investigar - atividade que cabe à Polícia Federal.
No blog, o delegado lista ações que na sua opinião são levantadas pela mídia para obstruir a Operação Satiagraha, entre elas o fato de se colocar sob suspeita o juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, responsável por expedir os mandatos de prisão de Dantas e outros detidos pela PF. O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) estuda uma representação contra De Sanctis por ter autorizado as escutas telefônicas da Operação Satiagraha.
Vampiros e chimpanzés
Ao citar um texto filosófico, o delegado compara seres humanos com vampiros e chimpanzés. Protógenes afirma que os vampiros são capazes de altruísmo e retribuição porque, depois de se alimentarem, compartilham o sangue conquistado com os demais da espécie - principalmente os mais fracos ou aqueles que já tenham ajudado o grupo no passado.
"Se os vampiros são capazes de altruísmo e retribuição, o mesmo deve valer para os homens. Dois movimentos opostos marcam a nossa dinâmica social com os primatas: guerra e cooperação. Compartilhamos o gosto pela guerra com o chimpanzé, que patrulha o seu território e invade o alheio, depois de calcular os riscos de uma derrota", diz Protógenes no blog.
Desde que foi afastado do comando da Operação Satiagraha, Protógenes usa o blog na internet para mandar recados sobre as investigações. O delegado prefere utilizar textos filosóficos e metafóricos ao invés de apresentar diretamente seus argumentos sobre o caso.
De Grandis
Em entrevista à Folha, o procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelo caso Satiagraha, afirmou que é absurdo falar em nulidade de provas no inquérito que apura supostos crimes financeiros praticados por Dantas.
"Toda a investigação teve autorização da Justiça Federal. Nenhuma prova foi colhida de forma irregular", disse De Grandis, para quem o foco da discussão deveria ser o conteúdo da investigação, não os investigadores. Segundo o procurador, é um "absurdo" se falar em nulidade das provas porque o trabalho de investigação da PF foi feito com autorização da Justiça. "É claro que isso é estratégia de defesa", afirmou o procurador.