O esvaziamento do Congresso e a falta de votações em plenário têm dado uma força na divulgação das campanhas de alguns deputados federais que concorrem a um cargo de prefeito. Como nem sempre o tempo no horário eleitoral é suficiente para influenciar nas pesquisas, e em parte dos municípios a propaganda gratuita sequer é veiculada, os parlamentares transformaram a tribuna da Câmara em um verdadeiro palanque eleitoral.
Sem público presente, mas com transmissão ao vivo dos veículos de comunicação da Casa ; mantidos com dinheiro público, vale lembrar ;, eles atacam adversários, falam da vida pessoal e até divulgam programas de campanhas. Isso sem contar com o apoio dos poucos colegas presentes no plenário que interrompem o ;comercial; para elogiar e desejar boa sorte ao candidato.
A idéia de aproveitar a estrutura da Câmara a favor da campanha se popularizou entre os deputados de tal forma que, desde 9 de julho, pelo menos 10 parlamentares ocuparam a tribuna mais de uma vez para fazer discurso eleitoral. Alguns deles, os mais adeptos da prática, como o deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), que disputa a Prefeitura de Petrolina, fez cinco discursos falando sobre sua campanha, suas propostas, sua vida pessoal e chegou até a ler seu programa de governo inteiro sob a justificativa de que ;ficasse registrado nos anais da Câmara quais eram seus compromissos com o povo de Petrolina;.
Em uma clara demonstração da intenção de aparecer ao vivo na televisão em tempos de campanha eleitoral, ele foi direto: ;Deputados e telespectadores da TV Câmara, com muita humildade, falarei hoje da minha própria vida...;. Foram 20 minutos para contar desde a origem humilde até a decisão de tentar mais uma vez chegar à prefeitura.
As propostas de campanha também foram ressaltadas na tribuna pelo deputado Waldir Maranhão (PP-MA), candidato a prefeito de São Luís. Em um dos discursos, o deputado fala das belezas da cidade, defende o planejamento da região metropolitana e divulga sua atuação sutilmente. ;No estado, se reflete o que ocorre na capital, São Luís, onde o candidato a prefeito está debatendo nossas questões sociais, econômicas e políticas;, disse referindo-se a ele mesmo.
Discursos
No palanque da Câmara, vale também ressaltar as justificativas para a candidatura. Foi o que fez Nilmar Ruiz (DEM-TO), que pleiteia a prefeitura de Palmas. ;Tomei essa decisão quando, diante de pesquisas qualitativas e quantitativas de vários institutos de renome do Brasil, deparei-me com um diagnóstico bastante desafiador: a população está carente de pessoas dispostas a solucionar os problemas da cidade.;
Na linha de ataques aos adversários, o líder em pronunciamentos é o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), que disputa a prefeitura da capital carioca. Da tribuna, chamou de fascista o governo do Rio de Janeiro pela retirada de outdoors com críticas ao governador Sérgio Cabral (PMDB) e disse: os candidatos-parlamentares que concorrem à mesma vaga não estão comparecendo ao trabalho. Já o deputado Ivan Valente (PSol-SP) usou a tribuna para reclamar de condições econômicas desiguais na campanha paulista. Fernando Gabeira (PV-RJ), por sua vez, criticou a atual administração do Rio de Janeiro e disse que faltam governantes dispostos a lutar.
Recados
Alguns candidatos usam a tribuna também para mandar recados a setores ; leia-se a eleitores ; nos municípios. Houve de tudo nos últimos meses. Transmitidos ao vivo pela TV Câmara e pela Rádio Câmara, Gonzaga Patriota pediu apoio aos fruticultores de Petrolina. Sebastião Madeira (PSDB-MA) defendeu os interesses dos carteiros de Imperatriz, onde é candidato, e Neucimar Fraga (PR-ES) pediu aumento para soldados e no fim lembrou que é candidato em Vila Velha. O candidato Barbosa Neto (PDT-PR) foi à tribuna duas vezes para criticar adversários e falar das suas propostas para a segurança na cidade de Londrina.
A desenvoltura dos parlamentares ao fazerem campanha política da tribuna da Câmara se deve à proteção constitucional dada a eles no que se refere aos atos praticados em razão do mandato. Portanto, mesmo que para a maioria dos brasileiros a utilização da estrutura mantida pelos cofres públicos para fins de campanha eleitoral não seja correta, não há quaisquer proibições nesse sentido, tanto pela Constituição ou pelo Regimento Interno da Casa. Dessa forma, ao que tudo indica, os parlamentares-candidatos vão continuar utilizando o mandato federal para tentar emplacar suas campanhas municipais.