A Polícia Federal está trabalhando contra o tempo para encontrar novas provas que comprometam os envolvidos nas fraudes descobertas durante a Operação Satiagraha. Apesar de ter levado à prisão várias pessoas, algumas liberadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), policiais envolvidos na apuração admitem que serão necessários outros elementos para manter o inquérito em andamento, já que a revelação do envolvimento de arapongas na investigação pode anular todos os procedimentos feitos até agora. A partir de amanhã, a PF vai enviar vários peritos a São Paulo para analisar documentos apreendidos desde julho, quando a ação policial foi desencadeada.
;Se encontrarmos outras provas, com certeza o inquérito não deverá ser anulado;, diz um delegado da cúpula da Polícia Federal. Segundo sua avaliação, a presença na investigação do araponga Francisco Ambrósio do Nascimento pode cancelar apenas uma pequena parte da apuração. ;Ele não deve ter assinado nenhum laudo ou se encarregou de procedimentos oficiais. Por isso, não há motivos para barrar o inquérito;, explica o delegado, ressaltando que o aparecimento de novas provas durante a perícia no material recolhido nas buscas reforçará as evidências contra os envolvidos.
Recursos
O principal interessado na anulação do inquérito é Daniel Dantas, controlador do banco Opportunity, preso durante a Operação Satiagraha. Seus advogados devem entrar com um recurso na Justiça pedindo a anulação do inquérito. O principal motivo é justamente o envolvimento dos arapongas na investigação. Além de Ambrósio, o delegado responsável pelo caso, Protógenes Queiroz, requisitou outros 52 agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para ajudar na apuração do caso. Legalmente, a agência pode auxiliar outros órgãos públicos, inclusive as polícias estaduais e guardas municipais, mas sua linha de atuação não deve extrapolar o que diz a lei, que é produzir conhecimento para a segurança do Estado.
E não foi bem isso que a Abin fez durante a Operação Satiagraha. Os agentes estiveram diretamente dentro do centro da investigação, que era uma sala da Diretoria de Inteligência Policial, no edifício-sede da PF, em Brasília. ;A participação na operação foi em decorrência de um pedido do delegado;, afirmou na semana passada o diretor-geral da agência, Paulo Lacerda, hoje, afastado do cargo. Segundo ele, o procedimento é normal. O trabalho feito, conforme Lacerda, consiste da análise de banco de dados, confirmação de endereços e consultas a fontes abertas (internet). Em nenhum momento, segundo a Abin, houve interferência na apuração.
Mas os argumentos não reduzem o temor dentro da PF quanto à possibilidade de o inquérito ser anulado. Uma ala admite que isso será mesmo possível, enquanto que outra aposta no oferecimento de novas provas para mostrar que a presença de arapongas na investigação não interferiu nos resultados. ;Estamos mandando reforço. Sabemos que o pessoal que chegar vai encontrar dificuldades por não estar adaptados ao caso, mas terá de se envolver rapidamente;, diz um delegado da cúpula da corporação.