Uma semana depois de saber que uma conversa sua com o senador Demostenes Torres (DEM-GO) foi alvo de arapongagem, por meio de uma escuta telefônica clandestina, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, participou ontem do desfile cívico do Sete de Setembro. Sentou-se na primeira fila, ao lado de sua mulher, Guiomar Mendes, e cumprimentou de forma protocolar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo menos publicamente, os dois chefes de poderes da República trocaram poucas palavras.
Pouco antes da chegada do presidente Lula e início da parada militar na Esplanada dos Ministérios, Gilmar Mendes conversou mais calmamente com os ministros da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, e da Justiça, Tarso Genro. O presidente do STF sentou-se ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do vice-presidente da República, José Alencar, que estava acompanhado da esposa, Mariza Silva. Ele, no entanto, se dedicou mais a dar atenção ao desfile cívico.
Desde a semana passada, Gilmar Mendes tem preferido evitar declarações contundentes sobre o que teria motivado o grampo telefônico, divulgado pela revista Veja, ou sobre a autoria da escuta clandestina. Há suspeitas de que a operação ilegal tenha partido de arapongas da Agência Brasileira de Informação (Abin). Por conta desses indícios, o presidente Lula afastou, na semana passada, o diretor do órgão, Paulo Lacerda.
No sábado, Gilmar havia participado, como convidado especial, do encerramento do V Seminário Ítalo-Íbero-Brasileiro de Estudos Jurídicos, no auditório do Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde proferiu uma palestra sobre a tutela dos direitos fundamentais no século 21. Foi muito elogiado pelo coordenador do evento, o desembargador federal Carlos Mathias, e pelo vice-presidente do STJ, Ari Pargendler. Ambos disseram a um auditório formado principalmente por estudantes de direito que Mendes na presidência do STF é motivo de orgulho para o país.
Ao tratar do tema sobre violação dos direitos fundamentais, Gilmar afirmou que a Constituição Federal repudia a denúncia genérica e o uso de provas ilícitas, incluindo escutas telefônicas ilegais. Depois da palestra, ele se limitou a comentar que condena a prática de escuta ilegal. ;Acho extremamente preocupante. Seja praticado por Polícia Federal, seja por Abin (Agência Brasileira de Inteligência), seja por agentes contratados;, afirmou. Ele deverá tratar do assunto hoje em depoimento aos delegados Rômulo Berredo, coordenador de Polícia Fazendária, e Willian Murad. A oitiva deve ocorrer no próprio Supremo.
Gilmar Mendes também recebe em audiência a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e participa da posse do novo corregedor-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Gilson Dipp.