A Polícia Legislativa do Senado, que investiga a instalação de grampos telefônicos na Casa Legislativa, não acredita que as escutas clandestinas realizadas contra um grupo de senadores tenha sido instalada nas dependências do Legislativo.
A Folha Online apurou que os policiais trabalham com a hipótese de que os grampos tenham sido executados por meio das operadoras que controlam o sistema telefônico local, sem a instalação direta no Senado.
A tese ganhou força depois que os policiais perceberam que, para grampear o telefone de um parlamentar, o grampo teria que ser instalado na linha utilizada exclusivamente pelo senador, dentro de seu gabinete. A instalação de uma escuta em um telefone próximo ao gabinete, ou mesmo na ante-sala do parlamentar, não teria força para grampear todas as conversas do senador diante do extenso número de troncos telefônicos existentes na Casa.
A estimativa da Polícia Legislativa é que existam cerca de 5.000 troncos telefônicos no Senado. Tecnicamente, os troncos juntam diversas linhas telefônicas em um mesmo número --o que dificulta a realização de grampos. Na prática, o gabinete de um senador por ter dez linhas telefônicas em apenas um número. Cada ligação recebida, feita para o mesmo número, será desviada para uma linha diferente por meio dos troncos.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que teve uma conversa grampeada com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, considerou "muito difícil" que os grampos tenham sido realizados no Congresso. "Quem mexe com esse tipo de investigação sabe que é muito mais difícil fazer grampos aqui", afirmou.
Como Mendes conversou com Demóstenes em um telefone celular, o senador não descarta que o aparelho móvel do presidente do STF tenha sido monitorado.
Varredura A Polícia Legislativa deve concluir as investigações sobre os grampos na segunda-feira, quando encaminhará os resultados ao presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Os policiais realizaram varreduras nos gabinetes dos cinco parlamentares que, segundo a revista "Veja", foram grampeados pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência): Demóstenes, Tasso Jereissati (PSDB-CE), Tião Viana (PT-AC), Álvaro Dias (PSDB-PR) e Arthur Virgílio (PSDB-AM).
Trezes policiais legislativos trabalham nas investigações, que foram solicitadas por Garibaldi após a divulgação das denúncias. A Polícia Federal entrou no caso depois da abertura de inquérito sobre os grampos clandestinos. Peritos da PF analisaram nesta quinta-feira a central telefônica do Senado com o objetivo de identificar a existência de grampos. A PF mantém as investigações sob sigilo.
A Folha Online apurou que a presença dos agentes da PF causou um "mal estar"" com os policiais legislativos do Senado, que já tinham dado início às investigações. Os peritos tiveram que pedir autorização a Garibaldi para começar os trabalhos, já que chegaram às dependências do Senado sem autorização formal para analisar a central telefônica. Na sede do Legislativo, o controle de segurança é exclusividade da Polícia Legislativa --por isso, pela hierarquia, a PF precisa pedir autorização para ingressar no Congresso.
Ao contrário dos policiais legislativos, que terão no mínimo 30 dias para apurar as denúncias, o presidente do Senado fixou o prazo de cinco dias para que a Polícia Legislativa conclua as investigações --o que deve ocorrer na segunda-feira. Diante do pequeno prazo, os policiais prometem trabalhar de forma ininterrupta até o fim do prazo fixado pelo presidente do Senado.