Depois de prestar depoimento por mais de uma hora aos delegados da Polícia Federal que investigam as denúncias de grampos clandestinos contra autoridades dos três Poderes, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse nesta quinta-feira acreditar que a principal linha de investigação da PF seja considerar que as escutas telefônicas tenham sido realizadas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O democrata afirmou que, apesar dos delegados trabalharem com outras hipóteses, têm como "foco principal" a denúncia de que a Abin realizou os grampos.
"O foco principal é que contam com a possibilidade de ser algum espião da agência desviado de suas funções", afirmou. Demóstenes disse, porém, que a Polícia Federal tem as mesmas linhas de investigação que foram cogitadas pelo ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Felix.
Em reunião com Demóstenes no Palácio do Planalto, o general teria afirmado que os grampos podem ter sido realizados por agentes da Abin sem autorização da agência, ou mesmo por empresas privadas de escutas clandestinas.
Felix também teria mencionado a possibilidade do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, ter grampeado o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
Os delegados da PF, porém, não citaram o nome de Dantas durante o interrogatório ao senador. "Eles não mencionaram o nome do senhor Dantas, mas não podem descartar a hipótese de uma telefônica ter realizado escutas clandestinas. Todos nós acreditamos que tenha havido desvios na Abin", afirmou.
Demóstenes teve uma conversa com o presidente do STF flagrada por grampos telefônicos. O senador confirmou a conversa com Mendes, realizada do telefone fixo do seu gabinete. Segundo Demóstenes, como Mendes estava em um telefone celular, é mais fácil que o aparelho móvel do presidente do STF tenha sido grampeado.
Os delegados Rômulo Berredo e Willian Morad, responsáveis pelo inquérito dos grampos, ouviram Demóstenes em seu gabinete por uma hora e meia nesta manhã, a portar fechadas. Os dois deixaram as dependências do Senado sem falar com a imprensa.