Nos últimos oito anos, mais brasileiras decidiram entrar na disputa eleitoral para tentar ser prefeitas, vice-prefeitas ou vereadoras. Entre 2000 e 2008, a participação feminina nas eleições municipais cresceu 13%. Mesmo assim, o percentual ainda é baixo, se comparado com o número de homens que tentam se eleger.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 382.775 candidatos que participaram das eleições de 2000, 71.540 (18,6%) eram mulheres contra 311.235 (81,4%) homens. Este ano, há 80.855 candidatas (21,2%) e 300.360 candidatos (78,8%) em um universo de 381.215 pessoas. A fatia de candidatas permaneceu praticamente estável da última eleição municipal, em 2004, para cá (21%).
De uma forma geral, a participação da mulher na política brasileira ainda é considerada tímida por especialistas. Pesquisa do escritório do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a mulher no Brasil e Cone Sul (Unifem) informa que o Brasil é o país da América Latina que tem menos mulheres em cargos do Executivo e do Legislativo. Além disso, entre os 187 países pesquisados, ele ocupa a posição de número 107.
No Congresso Nacional, os índices também são baixos. Na Câmara, há 45 deputadas (8,7%) e 468 deputados em exercício (91,2%). No Senado, são nove senadoras (11,1%) e 72 senadores (88,8%). Para a gerente do programa de gênero, raça, etnia e pobreza do Unifem, Fernanda Vieira, a estrutura social brasileira, em que as mulheres continuam com uma carga maior de responsabilidade sobre as tarefas domésticas, e o preconceito em relação à atuação feminina na política ajudam a explicar os números.
;Há muitos relatos de mulheres que ouvem piadinhas. A feminilidade é sempre colocada em questão. Elas têm que provar competência e também corresponder às expectativas sociais. Isso define tanto a votação dos eleitores quanto a própria indicação dos partidos políticos;, analisou.
Mas não é só o Brasil que enfrenta a situação. Pesquisa feita pela União Interparlamentar (UIP); organização internacional que congrega os parlamentos de mais de cem países ; revela que, em 1975, 11% das cadeiras dos parlamentos dos países pesquisados eram ocupadas por mulheres. Hoje, esse índice cresceu pouco: passou para 18%. ;Ainda estamos muito mal em relação aos países da América Latina, mas essa não é uma questão específica do Brasil. Alguns países conseguiram avançar mais que nós. No entanto, a inclusão das mulheres ainda é um desafio para a democracia moderna;, avaliou Fernanda Vieira.
Cotas
No Brasil, a Lei Eleitoral obriga os partidos e coligações a reservarem, no mínimo, 30% das vagas disponíveis para cada sexo. Mas, na prática, o percentual de mulheres acaba sendo inferior. Apesar da determinação, a lei não prevê punição para quem não alcançar o índice mínimo.
;Depois da lei das cotas, até aumentou o número de indicações dos partidos, mas o investimento das legendas na candidatura de mulheres ainda é muito baixo. Não basta colocar uma lista de candidatas, é preciso um investimento maior na capacitação. A discussão está posta, mas há um longo caminho a percorrer. E ele mexe com a estrutura da sociedade brasileira;, afirmou a especialista da Unifem.
Coordenadora da bancada feminina da Câmara, a deputada Sandra Rosado (PSB-RN) diz que, muitas vezes, sente na pele o preconceito. ;Embora seja boa a qualidade dos mandatos das mulheres, em alguns setores ainda há resistência a essa participação. Os partidos investem mais nas candidaturas masculinas. Mas somos teimosas. A lei reserva 30% para mulheres. Essa luta é histórica e precisamos que ela seja discutida pela sociedade;, afirmou a parlamentar.
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