Nem só ministérios e presidências de estatais, com orçamentos bilionários, alimentam a corrida por cargos entre os partidos. Postos nos estados, de menor envergadura, mas de peso político nos redutos eleitorais, provocam competição ainda mais acirrada entre deputados e senadores. E dão fôlego a uma disputa que hoje, diante da proibição de empenho de emendas parlamentares pela legislação eleitoral, ocupa o topo das preocupações da coordenação política do governo, pelo potencial de gerar insatisfações na Câmara e no Senado.
Os embates não ocorrem apenas entre diferentes legendas. Há casos de rixas internas, as quais tornam ainda mais espinhosa a tarefa do Palácio do Planalto de contemplar as 14 siglas que apóiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Neste mês, por exemplo, dois primos, ambos integrantes do PMDB, obrigaram a direção nacional do partido e o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, a decidirem quem teria a prerrogativa de indicar o chefe da Delegacia Federal de Agricultura em Sergipe. O martelo bateu em favor do senador Almeida Lima, candidato a prefeito de Aracaju.
E deixou contrariado o deputado federal Jackson Barreto, até então ;padrinho; da vaga. Furioso, Barreto reclamou a Múcio. O caso só não ganhou proporção maior porque a Executiva do PMDB, diante da reação raivosa do deputado, interveio. ;O Almeida Lima não tinha interferência maior na política local. Como queremos uma situação de equilíbrio, ele ficou com a Delegacia de Agricultura e com a Funasa no estado, além do diretório municipal. Já o Jackson Barreto ficou com os Correios e o diretório estadual;, diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Sem polêmica
Múcio não comenta disputas por cargos. Responsável por manter a harmonia na coalizão governista, prefere entoar o discurso de praxe, segundo o qual os partidos têm o direito de preencher vagas na máquina pública. O gabinete do ministro, no entanto, é palco de discussões acaloradas e de lobbies, alguns dos quais para cargos surpreendentes. Desde o início do ano, o PSC, com uma bancada de 12 deputados federais, reivindica uma diretoria na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. O partido chegou a ameaçar a retirada da base governista, caso não fosse atendido. Recorreu a uma alegação marcada pela sinceridade: seria muita desmoralização não emplacar nem mesmo o diretor de uma biblioteca.
O alerta foi feito dias antes da votação da proposta de recriação da CPMF, rebatizada de CSS. Sensibilizou Múcio, que bateu às portas do titular da Cultura, Gilberto Gil, a fim de resolver a questão. Meses depois, ainda não há desfecho para o caso. ;É legítima a participação no governo. A coalizão é programática e pragmática;, declara o líder do PSC na Câmara, Hugo Leal (RJ). ;Indicamos uma pessoa que é do partido e funcionário de carreira da biblioteca. Foi feito um entendimento com o Múcio e o Ministério da Cultura. Não há uma crise em curso, há?;, pergunta. Pelo jeito, não.
Há cerca de 10 dias, o PSC conquistou o direito de indicar um diretor da Casa da Moeda. Foi beneficiado por uma operação deflagrada a fim de acomodar o PTB na presidência do órgão. ;O PTB só tinha um posto no governo federal;, diz um petebista. Confrontado com o fato de Múcio ser do PTB, ele argumenta que a Secretaria de Relações Institucionais não tem cargo nem orçamento. Por isso, não poderia ser contabilizada. Lembrado de que a legenda também comanda a Superintendência de Seguros Privados (Susep), fez-se o recua: ;Tudo bem, dois cargos;.
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