Sem alarde, os deputados Michel Temer (PMDB-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI) iniciaram a disputa pela presidência da Câmara, a quase sete meses das eleições para a Mesa Diretora da Casa. Ambos correm contra o tempo para garantir a maioria dos votos dos colegas à sucessão do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O acordo firmado no passado entre PT e PMDB de que os peemedebistas ficariam com a cadeira é questionado pelo grupo de Ciro.
Ciro e Temer têm estilos de campanhas bem diferentes. Enquanto o primeiro saiu na frente em busca de votos entre os 512 deputados, o peemedebista deu início à corrida sucessória somente há alguns meses.
Para Ciro, a confiança na possibilidade de vitória está depositada nos votos dissidentes do PSDB e DEM, além dos deputados que integram o chamado "baixo clero" (grupo de parlamentares que não ocupam cargos de destaque na Câmara nem nos partidos políticos) Temer, por sua vez, conta com o apoio fiel que seu partido tem dado ao governo, assim avalia que terá em massa a contrapartida dos governistas à sua candidatura - exceto o PP, partido de Ciro.
A tendência é que PSDB, DEM e PTB, partidos que deverão servir como fiéis da balança na disputa, liberem suas bancadas para que os deputados votem como quiserem. A idéia seria evitar uma orientação específica, assim estaria afastado o constrangimento de apoiar um candidato governista.
Estratégias
O atual segundo-secretário da Câmara, Ciro Nogueira, centralizou suas atenções no "baixo clero" e nos parlamentares de primeiro mandato. Detalhista, o pré-candidato do PP orientou sua equipe a montar um cadastro com os dados dos colegas - incluindo os nomes das mulheres e, no caso das deputadas, dos maridos. Assim, nos aniversários, ele não só telefona desejando felicidades e saúde, como também envia presentes, em geral um vinho.
Determinado a conquistar o apoio dos que se consideram preteridos na Câmara, Ciro defende posições favoráveis aos pleitos dos colegas e costuma criticar os acordos firmados entre os grandes partidos, como PMDB e PT.
Táticas
Ex-presidente da Câmara, Temer tem um estilo mais discreto. Confiante no apoio dos governistas e principalmente do Palácio do Planalto, o peemedebista optou pelas conversas individuais e reservadas. Nelas, ele destaca a importância de a Câmara desfazer a imagem negativa que a cerca desde a renúncia do ex-presidente Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005.
A seu favor, Temer conta com a experiência de seis mandatos legislativos, um deles na presidência da Câmara, além de sempre ter ocupado cargos de comando na Casa, como a liderança do PMDB e o controle da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Ao contrário de Ciro, Temer mira nos parlamentares mais antigos e líderes partidários. Interlocutores afirmam que, para o peemedebista, é mais eficiente a abordagem aos colegas por meio daqueles que atuam como uma espécie de "mentores" na Casa do que a relação direta com os menos experientes na Câmara.