A gravação divulgada nesta quinta-feira (17/7) pela Polícia Federal reproduz um diálogo entre o delegado Protógenes Queiroz e o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho. Nos trechos, o delegado reconhece ter criado um problema e manifesta interesse em colaborar na continuidade das investigações, mas diz expressamente não querer mais presidir o inquérito.
Protógenes: (...) Eu criei um problema para os meus colegas delegados, um grande problema, e para você também. Então minha proposta é essa, permanecer minha vinculação ao seu gabinete, sua disposição até o final do trabalho, para não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos estados e deixa no meio do caminho. As minhas nunca ficaram e a exemplo dessa, não vai ficar, mas com um diferencial: eu não vou ficar presidindo, não pretendo presidir nenhuma investigação, mas ficar coletando dados, analisando....
Em resposta a Queiroz, antes que ele concluísse o raciocínio, Troncon condiciona a permanência do delegado conclusão do inquérito antes que ele iniciasse a parte presencial de um curso de formação, com início previsto para a próxima segunda-feira em Brasília. O curso foi o argumento usado pela PF para justificar o afastamento do delegado.
Troncon: Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que você instalou, se você conseguir concluir antes do período de você ir para a academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir dentro da melhor técnica, e isso requerer maior tempo e maior análise, aí a gente passa para um dos colegas.
Em outro trecho da reunião, Protógenes agradece o apoio recebido dos seus superiores e faz uma autocrítica em que admite falhas na condução da Operação Satiagraha, especialmente em relação presença de uma emissora de TV no momento em que se efetuavam prisões.
Protógenes: Não preciso nem falar com relação ao doutor Troncon, que é um chefe ímpar, que me deu toda essa... Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente eu destaco o doutor Troncon. Em seguida, o doutor Leandro [Daiello, superintendente da Polícia Federal em São Paulo] e em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia esquecer aqui o dr. Luiz Fernando Côrrea [diretor-geral da PF], a quem prezo e tenho um carinho muito grande. Então ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem. Aqui hoje é uma avaliação de erros para nos corrigirmos e nos policiarmos. Então houve a presença da imprensa aqui em São Paulo? Houve. Quem falhou? O Queiroz [delegado se refere a ele mesmo] falhou, porque o Troncon me depositou [confiança] e eu firmei compromisso com ele, mas falhou o meu controle.
A Operação Satiagraha, que combate crimes financeiros, resultou na prisão de figuras de expressão como o banqueiro Daniel Dantas o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, que foram expostas publicamente algemadas.
A saída do delegado foi anunciada anteontem e gerou polêmica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ele deveria ter ficado, o ministro Tarso Genro disse que o fato não atrapalharia as investigações e o Sindicato dos Delegados PF pediu explicações.
Lula se reuniu na manhã de hoje com Tarso e o diretor-geral interino da Polícia Federal, Romero Menezes, para discutir a Operação Satiagraha. A assessoria da Polícia Federal e do Palácio do Planalto negaram que o presidente tenha solicitado a Menezes que divulgasse a gravação.