A Polícia Federal investiga o interesse do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, em um programa do governo federal que concede isenção de impostos a equipamentos do setor portuário, o Regime Tributário para Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura Portuária (Reporto). Em escutas telefônicas realizadas no inquérito da Operação Satiagraha, os investigadores interceptaram conversas sobre a Medida Provisória nº 412/2007, que prorrogou o Reporto até 2011. Pessoas ligadas a Dantas tratam a matéria como ;o âmago do nosso negócio hoje;.
A PF investigava possíveis crimes financeiros cometidos por empresas de Dantas. A conversa grampeada chamou a atenção dos policiais para o grande interesse do banqueiro na área de portos. A partir daí, os investigadores passaram a apurar a atuação do dono do Opportunity nessa área em busca de eventuais irregularidades cometidas também no setor. Eles analisam o resultado das buscas e apreensões realizadas na semana passada atrás de informações que possam detalhar os negócios portuários do banqueiro.
Um dos diálogos vigiados é de Arthur Joaquim de Carvalho, cunhado de Dantas e funcionário do grupo Opportunity. Ele se mostra muito preocupado com a votação da MP no Senado e reclama a Guilherme Sodré ; apontado pela polícia como lobista dos interesses do banqueiro ; da atuação do senador Heráclito Fortes (DEM-PI). O senador, em razão de embates políticos na Casa, estaria colocando em risco a aprovação da matéria. ;Rapaz (Guilherme), mas não pode cara, eles estão metendo pau no nosso negócio;, afirma.
Carvalho falou com Sodré às 22h16 de 27 de maio, véspera da votação da MP 412 no Senado. No fim, um acordo entre governo e oposição permitiu a aprovação, prorrogando o Reporto até o final de 2011. O programa isenta vendas de máquinas, equipamentos e outros bens, no mercado interno ou externo, do pagamento do Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e do PIS/PASEP. A renúncia de receitas resultante do Reporto corresponderá a R$ 150 milhões por ano.
Um dos principais negócios do Opportunity é a participação no capital da Santos Brasil, operadora do maior terminal de contêineres da América do Sul, no porto de Santos (SP). O fundo, do qual Daniel Dantas é gestor, tem 32,78% da Santos Brasil Participações, dona da Santos Brasil. Entre as pessoas presas na semana passada, estão três conselheiros da empresa, incluindo o presidente do Conselho de Administração, Arthur Carvalho, flagrado nas escutas da PF. Além dele, foram presos outros dois membros do conselho: Maria Amália Coutrim e Verônica Dantas, alvos da Satiagraha.
Verônica é irmã de Dantas e, segundo relatórios de inteligência da PF, ela seria ;sócia de inúmeras (mais de 150) empresas do grupo, além de fazer parte do conselho deliberativo e diretoria de diversas empresas do grupo, assim como sócia de empresas gestoras dos fundos Opportunity;. Maria Amália é apontada como uma das ;testas-de-ferro; do grupo empresarial e faria gestões no interesse do banqueiro, ou seja, uma das partícipes nos indícios de gestão fraudulenta das empresas. A exemplo de Dantas, as duas foram liberadas da cadeia por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
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