O senador Tião Viana (PT-AC) e o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) estão em plena campanha pelo Congresso. O primeiro quer presidir o Senado a partir de 2009. O segundo, a Câmara. Mas não há chance de os dois vencerem ao mesmo tempo. Um deles terá que abrir mão. Ou até mesmo os dois. Motivo: o PMDB. Maior bancada nas duas Casas, o partido tem o direito de indicar os respectivos presidentes. A legenda já avisou, por exemplo, que vai querer, ao menos, uma das vagas na eleição marcada para fevereiro do ano que vem.
Precavido, o PT já negocia com a bancada do PMDB no Senado o apoio a Tião Viana. Mas alguns peemedebistas ainda resistem. Cogitam até sugerir o retorno à Casa do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), licenciado do mandato, para assumir o cargo. Seria uma saída que contaria com o apoio de José Sarney (PMDB-AP). Apesar de sempre ser lembrado, Sarney tem dito que não pretende voltar à Presidência do Senado. Ele até já conversou com Viana sobre o assunto. Ao petista, diz que não tem objeção à sua candidatura, mas não fechou apoio a ela.
O problema do PT, no entanto, é bem maior: ultrapassa o tapete azul do Senado e tropeça em Ciro Nogueira. Figura ilustre do baixo clero da Câmara, Nogueira seria o favorito se a eleição fosse hoje. Ele não titubeia em cortejar os colegas. Seu sucesso impediria uma vitória de algum nome do PMDB, inviabilizando as chances de o PT emplacar Tião Viana no Senado.
Efeito Severino
Ciro Nogueira ganhou destaque quando foi fiel escudeiro de Severino Cavalcanti (PP-PI), eleito presidente da Câmara em 2005, cargo que deixou meses depois após renunciar ao mandato de deputado por acusação de cobrança de propina na Casa. A eventual eleição de Nogueira em 2009 é vista pela elite da Câmara como a reedição da vitória de Severino: o triunfo do baixo clero, grupo de deputados sem expressão, mas numeroso.
Nesse xadrez político, aparece o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP). Seu nome, por enquanto, é o único que circula entre os peemedebistas para disputar a eleição da Câmara. Temer já foi presidente da Casa, tem bom trânsito entre os caciques, mas não no baixo clero. Por isso, o PMDB cobra do PT um apoio fechado a Temer. Os dois partidos têm as maiores bancadas da Casa. Um acordo seria uma forma de selar a vitória do presidente do PMDB em 2009.
O PT sabe que essa é a única saída para eleger Tião Viana no Senado. ;A sucessão é casada;, reforça a líder da bancada de senadores petistas, Ideli Salvatti (SC). Ela, aliás, já dá o recado a quem do PMDB sugerir ficar com o comando das duas Casas. ;Não é saudável que as duas Casas tenham presidentes do mesmo partido;, diz.
Para o PT, apoiar um nome do PMDB na Câmara seria apenas cumprir acordo feito na eleição do atual presidente da Casa, o petista Arlindo Chinaglia (PT-SP). Em fevereiro de 2007, o PMDB aceitou ficar ao seu lado em troca de ter os petistas a favor de um peemedebista em 2009.
Os que sonham com Tião Viana no comando do Senado torcem para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogue a seu favor. Só que, em anos anteriores, Lula demorou para revelar sua posição na disputa pelo poder do Congresso. Emite sinais, mas não toma partido. Até porque é pressionado pelo PT, mas é próximo de Sarney. E precisa do PMDB. Oficialmente adotará o discurso de que esse é um problema de Câmara e Senado. Reservadamente, aguardará que os dois partidos se entendam. Se precisar, entra no jogo, mas no final.
Os presidentes eleitos em 2009 têm uma vantagem com relação aos atuais: poderão se reeleger em 2011, já que, naquele ano, terá início uma nova legislatura. O regimento impede a reeleição dentro do mesmo mandato. Ou seja, Chinaglia e o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), não podem disputar a chance de ficar no cargo.