A validade do indicador de percepção de corrupção divulgado anualmente pela Transparência Internacional (TI) foi contestada pelo presidente da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, em seminário da entidade sobre monitoramento e combate à corrupção, em São Paulo, na última segunda-feira. ;Não há indÃcios de que esse indicador tenha relação com a corrupção dos paÃses listados;, afirmou Abramo. Ele contestou a metodologia utilizada, a alta margem de erro e a suposta ;falta de transparência; do estudo.
O Ãndice de Percepção da Corrução (IPC) é divulgado desde 1995. A Transparência Brasil rompeu com a TI no ano passado, mas esteve associada a esse organismo internacional nos últimos seis anos. Abramo afirma que passou a relativizar a importância do Ãndice a partir de 2004 e parou de divulgar o ranking em 2005. Bruno Speck, do Departamento das Américas do TI, responde os ataques: ;Ele (Abramo) está fazendo polÃtica. Polemizar com a Transparência Internacional traz visibilidade. Às vezes, penso que o grande inimigo dele não é a corrupção, é a Transparência Internacional;.
No ano passado, o Brasil ficou com nota 3,5 no Ãndice de percepção da corrupção divulgado pela Transparência Internacional, em setembro. No ano anterior, havia recebido nota 3,3. Apesar da pequena melhora, o paÃs caiu duas posições no ranking de combate à corrupção, ficando na 72ª posição numa lista de 180 paÃses. A queda se explica porque outros paÃses passaram a integrar o estudo. Speck fez um cálculo, a pedido do Correio, e informou que, pela margem de erro, o Brasil pode estar quatro posições acima ou 22 posições abaixo no ranking.
Indicador ordinal
;Não há evidências de que esse Ãndice permita indicar o nÃvel de corrupção dos paÃses. Não é um indicador quantitativo, é um indicador ordinal (estabelece a ordem de colocação dos paÃses);, afirma Abramo. Na sua opinião, a principal falha do estudo é a alta margem de erro. Ele deu como exemplo extremo El Salvador, que aparece com nota 4 no ranking, mas com uma variação de 2 a 6,5.
Bruno Speck, do Departamento das Américas da Transparência Internacional, lembra que os mais importantes indicadores de corrupção no mundo, o IPC e o Controle de Corrupção (KK), do Banco Mundial, têm maior repercussão porque cobrem um número maior de paÃses. Ele acrescenta que a TI e o Banco Mundial usam praticamente a mesma base de informação, que seriam 30 fontes diferenciadas.
O representante da TI nega que não haja transparência em relação à metodologia utilizada: ;Nós apresentamos as fontes, com ampla documentação;. Quanto à falta de precisão das notas, esclarece: ;É importante usar a honestidade. Temos um grau de incerteza, há uma margem de erro, pelo uso de diferentes fontes. Isso está demonstrado no estudo. Assim, o Brasil pode estar algumas colocações acima ou abaixo. O que eu posso fazer? Não posso mentir. Nas pesquisas que fizemos com Abramo sobre compra de votos, havia uma margem de erro de 8%. Dizer que isso não tem validade cientÃfica é estranho;.