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Operador de pá mecânica assume ter feito escavações no cemitério do Gama

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O operador de pá mecânica Francisco Assis de Carvalho assumiu, nesta quarta-feira (18/06) ter feito as escavações no cemitério do Gama, onde foram encontrados depósitos de ossadas, mas disse que elas foram feitas entre o final de 2001 e 2002. Apesar do serviço ter sido executado na época em que os cemitérios eram administrados pelo governo, para o presidente da CPI, deputado Rogério Ulysses (PSB), as manilhas podem ter sido utilizadas também pela empresa Campo da Esperança Ltda.

A conclusão de Ulysses baseou-se no depoimento à CPI feito ontem por Warllen Aparecimento Lucas Mendes, ex-subgerente do cemitério do Gama até 2007. Ele mencionou o fato de que as manilhas estavam 40 cm acima do nível do solo, mas durante a visita dos membros da comissão ao local elas estavam completamente enterradas.

Para o deputado Reguffe (PDT), o principal não é quando ocorreram as escavações e sim que elas foram utilizadas. "O fato é que houve uma remoção criminosa de ossadas, sem sequer o conhecimento das famílias, e o responsável tem que ser punido com rigor. Isso não é normal, é revoltante", diz. Ele também compartilha da tese de que a empresa utilizou-se das manilhas para acomodar restos humanos e defende o aprofundamento das investigações para trazer "todos os fatos à tona", dessa ou de outra administração.

Cassação
Reguffe defende a cassação da licença da empresa Campo da Esperança. "Concessão não é propriedade. Se o serviço não está sendo prestado com qualidade, ele deve ser anulado", diz o deputado. Ele classifica como absurda a proposta de recisão contratual, que gera o pagamento de indenização à empresa. "Seria um prêmio a quem agiu na ilegalidade e cometeu uma série de irregularidades", justifica.

Reguffe também defendeu o depoimento da deputada licenciada Eliana Pedrosa, atual secretária de Desenvolvimento Social e Trabalho. Adiantou, ainda, que os próximos a serem ouvidos pela CPI deverão ser os antigos administradores dos cemitérios do Gama do Plano Piloto, respectivamente Samuel e Evandro, de quem Francisco Assis de Carvalho disse ter recebido as ordens para fazer as escavações.

Balanço
O depósito "criminoso e clandestino" de ossadas no Gama foi o fato mais grave apurado pela CPI dos Cemitérios até agora, segundo o deputado Rogério Ulysses (PSB), presidente da Comissão. A afirmação se deve ao balanço de três meses de trabalho, completados nesta quarta-feira e foi divulgada pelo site da Câmara Legislativa do DF.

Ulysses disse que a CPI está iniciando uma nova fase, ainda segundo a matéria divulgada no site. "Após investigação, análise e constatação de irregularidades, estamos agora apurando as responsabilidades, e ao final vamos propor um novo modelo de gestão para os serviços funerários no DF", disse o presidente. Após a conclusão dos trabalhos da CPI, os resultados serão encaminhados ao Ministério Público, ao GDF e ao Tribunal de Contas do DF, propondo soluções administrativas para os problemas enfrentados.

O presidente admitiu que a comissão começou sem ter noção precisa da gravidade dos fatos denunciados. Além da remoção irregular de ossos, os deputados se depararam com a ação dos "papa-defuntos", que a mando das funerárias contatam clientes ainda nos hospitais; o provável envolvimento de funcionários públicos no "mercado da morte"; a reutilização de caixões, além da apropriação indevida do DPVAT, o seguro para famílias de vítimas de acidentes de trânsito, pelas funerárias.